Argentina cria conflitos com o Exterior na tentativa de solucionar problemas internos
Postura do país deixa claro que os propósitos vão além do aspecto econômico
Em novo lance de populismo, a presidente Cristina Kirchner disse que é preciso enfrentar países tidos como colonialistas, caso da Espanha e da Grã-Bretanha
A estatização da petrolífera argentina YPF, desde 1999 controlada pela espanhola Repsol, é mais um elemento a entrar no longo rol de tensões econômicas que tem confrontado a Argentina com outros países.
O mal-estar com a Espanha já está sendo definido, mordazmente, como uma “Malvinas light”. Sem o risco de extrapolar da crispação verbal para a guerra, é uma forma de apelar ao patriotismo contra uma nação europeia de passado colonialista.
Analistas de diferentes matizes concordam, independentemente do juízo de valor que façam disso: a ação é econômica, mas está contaminada por forte teor político. A intervenção na YPF foi imposta segunda-feira via decreto.
No mesmo instante, a Casa Rosada enviou ao Congresso projeto que transfere 51% das ações da companhia pertencentes à Repsol para o Estado (dividindo-as entre governo federal e províncias). Estava instaurado um novo conflito.
— Depois do default (suspensão do pagamento da dívida externa) promovido por Adolfo Rodríguez Saa (presidente argentino durante uma semana, na crise do fim de 2001), foi a maior estocada do governo argentino, foi uma transgressão — diz o analista político Joaquín Morales Solá.
Nesses 10 anos aos quais se refere Solá, foram diversos os apelos externos argentinos para resolver impasses internos. Desde que Néstor Kirchner assumiu a presidência, em 2003 (Cristina é sua viúva e sucessora), com a missão de superar a grave crise política do início da década, houve uma série de disputas – contra o Fundo Monetário Internacional (FMI), os credores externos, o grupo francês Suez, o espanhol Aguas de Barcelona, a Shell, o também espanhol Marsans, a Grã-Bretanha, produtores rurais, empresas de comunicação e fundos privados de aposentadoria. A lista é extensa.
Briga de cifras sobre investimento
No discurso de Cristina a respeito da Repsol, aliás, ficou claro que o propósito vai além do aspecto econômico. A presidente pontuou o significado político de enfrentar países tidos como colonialistas, caso da Espanha e da Grã-Bretanha.
Umas das principais críticas do governo argentino é que a Repsol-YPF reduziu em entre 30% e 35% a produção de petróleo nos últimos anos e mais de 40% a de gás, o que forçou a Argentina a aumentar em mais de US$ 9 bilhões as importações. A Repsol rejeita esse argumento. Assegura que, em 2012, já trabalhava com os planos de investir US$ 3,4 bilhões no país.
O cientista político argentino Gabriel Vitullo não descarta o teor político do gesto de Cristina, mas dá suporte à tese segundo a qual a ação já deveria ter até ocorrido antes:
— A economia argentina não se sustenta sem soberania energética. Com a Repsol, houve fuga sistemática de divisas sem reinvestimento para a exploração. Estava ficando insustentável. Algo deveria ser feito. A pressão sobre a Repsol não deu certo e se chegou a esse ponto de expropriação.
A respeito de uma “Malvinas light”, Vitullo evita comparações, argumentando que são contextos diferentes. Na época da guerra, havia “uma ditadura sanguinária” e, agora, “há um governo legitimamente eleito”.
O mal-estar com a Espanha já está sendo definido, mordazmente, como uma “Malvinas light”. Sem o risco de extrapolar da crispação verbal para a guerra, é uma forma de apelar ao patriotismo contra uma nação europeia de passado colonialista.
Analistas de diferentes matizes concordam, independentemente do juízo de valor que façam disso: a ação é econômica, mas está contaminada por forte teor político. A intervenção na YPF foi imposta segunda-feira via decreto.
No mesmo instante, a Casa Rosada enviou ao Congresso projeto que transfere 51% das ações da companhia pertencentes à Repsol para o Estado (dividindo-as entre governo federal e províncias). Estava instaurado um novo conflito.
— Depois do default (suspensão do pagamento da dívida externa) promovido por Adolfo Rodríguez Saa (presidente argentino durante uma semana, na crise do fim de 2001), foi a maior estocada do governo argentino, foi uma transgressão — diz o analista político Joaquín Morales Solá.
Nesses 10 anos aos quais se refere Solá, foram diversos os apelos externos argentinos para resolver impasses internos. Desde que Néstor Kirchner assumiu a presidência, em 2003 (Cristina é sua viúva e sucessora), com a missão de superar a grave crise política do início da década, houve uma série de disputas – contra o Fundo Monetário Internacional (FMI), os credores externos, o grupo francês Suez, o espanhol Aguas de Barcelona, a Shell, o também espanhol Marsans, a Grã-Bretanha, produtores rurais, empresas de comunicação e fundos privados de aposentadoria. A lista é extensa.
Briga de cifras sobre investimento
No discurso de Cristina a respeito da Repsol, aliás, ficou claro que o propósito vai além do aspecto econômico. A presidente pontuou o significado político de enfrentar países tidos como colonialistas, caso da Espanha e da Grã-Bretanha.
Umas das principais críticas do governo argentino é que a Repsol-YPF reduziu em entre 30% e 35% a produção de petróleo nos últimos anos e mais de 40% a de gás, o que forçou a Argentina a aumentar em mais de US$ 9 bilhões as importações. A Repsol rejeita esse argumento. Assegura que, em 2012, já trabalhava com os planos de investir US$ 3,4 bilhões no país.
O cientista político argentino Gabriel Vitullo não descarta o teor político do gesto de Cristina, mas dá suporte à tese segundo a qual a ação já deveria ter até ocorrido antes:
— A economia argentina não se sustenta sem soberania energética. Com a Repsol, houve fuga sistemática de divisas sem reinvestimento para a exploração. Estava ficando insustentável. Algo deveria ser feito. A pressão sobre a Repsol não deu certo e se chegou a esse ponto de expropriação.
A respeito de uma “Malvinas light”, Vitullo evita comparações, argumentando que são contextos diferentes. Na época da guerra, havia “uma ditadura sanguinária” e, agora, “há um governo legitimamente eleito”.
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