Interessados em público de maior poder aquisitivo, empresários voltam a investir no centro da Capital
Consumo, gastronomia, lazer e vida cultural renovados atraem visitantes e moradores ao coração de Porto Alegre
Bistrôs, cafeterias com origem em shopping centers e lojas que atendem a consumidores das classes A e B estão voltando a investir no centro histórico da Capital
Erik Farina e Lara Ely *
A imagem de um Centro abarrotado de lojas populares e pontilhado de carrocinhas de lanche barato, que se consolidou no imaginário dos porto-alegrenses com menos de 40 anos, está ficando para trás.
Grandes redes de comércio e restaurantes que cobiçam um público de maior poder aquisitivo e mais descolado voltam seus olhos ao potencial da região.
Bistrôs, cafeterias com origem em shopping centers e lojas que atendem a consumidores das classes A e B estão voltando a investir no centro histórico da Capital. Diversas inaugurações ocorreram em espaços de antigas galerias, cinemas ou espaços antes ocupados por negócios populares.
Inaugurada em novembro, a Paquetá da esquina da Rua dos Andradas com a Avenida Borges de Medeiros, onde antes funcionava a Gaston, foi concebida para atender a um público mais exigente.
Com investimento de R$ 1 milhão, recebeu decoração e iluminação idêntica às unidades de shoppings e uma área masculina exclusiva para atender a empresários e executivos que trabalham na região.
— O centro voltou a ser atraente para a classe B — avalia Paulina Bacher, gerente de marketing da Paquetá.
São duas explicações para a retomada do interesse na área: a ascensão da classe média, que tem no comércio de rua um espaço de lazer, convivência e consumo, e as obras de melhoria nos últimos anos, que trouxeram mais organização à área, atraindo clientes mais endinheirados.
— Com mais acesso à informação e dinheiro no bolso, a classe média está à procura de marcas conhecidas, e as empresas maiores se movimentam para atendê-la — afirma Artur Vasconcellos, coordenador da área de mercado de pós-graduação da ESPM-Sul.
A redescoberta do comércio do Centro se dá em harmonia com as características históricas e culturais da região. A Lojas Renner prepara a inauguração de uma loja no antigo prédio da Livraria do Globo, na Andradas, tombado como patrimônio histórico de Porto Alegre.
Para adequar o negócio à estrutura do prédio, foram restaurados parapeitos, paredes de tijolo à vista e tubulações aparentes. O investimento na loja chega a R$ 14 milhões.
O resultado é um espaço diferente de qualquer outro dos 164 pontos de venda da empresa no Brasil, com um memorial da cidade e um Café do Porto, rede conhecida por cafeterias em locais frequentados pela classe média alta.
— Custaria menos inaugurar uma loja em um prédio normal, mas quisemos contribuir com a recuperação do prédio — afirma José Galló, diretor-presidente da Lojas Renner.
Ressurgido para o consumo, o Centro deverá permanecer receptivo aos negócios. A recuperação da área do Cais do Porto reforça a tendência.
— O Centro deve se tornar o principal local de convívio social nos próximos anos, atraindo novos negócios — afirma Gustavo Schifino, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas da Capital (CDL).
Desde 2005, o Projeto Viva o Centro, liderado pela prefeitura com participação privada, rendeu investimentos ao redor de R$ 80 milhões, calcula o coordenador do Viva o Centro, Glênio Bohrer.
Os pontos da sofisticação
A popularização do espumante pega carona na elitização do centro de Porto Alegre. Enquanto as champanharias buscam diminuir o estereótipo dos públicos A e B, algumas lojas do centro querem atingir consumidores mais abastados. O sucesso das champanharias no centro histórico surge nessa brecha.
Frequentadas por profissionais que trabalham no centro, como funcionários públicos, advogados e políticos, recebem pessoas que se deslocam de outros bairros até a Rua Duque de Caxias para encontrar os amigos e degustar a bebida por preços mais acessíveis. A iniciativa de popularizar o espumante foi da Ovelha Negra, instalada na esquina da Bento Martins desde 2004.
Hoje, a pioneira já mostra uma tendência. Para quem, além do espumante, gosta de jazz e charutos, uma nova opção é a Six Champanheria e Charutaria, aberta há três meses. Localizado na esquina da Rua General Cipriano Ferreira, o local tem mesas de madeira, luz indireta e uma sala dedicada para apreciadores para quem quiser fumar.
Oriental e descolado
Ao voltar das aulas de português na Faculdade de Letras da UFRGS, os amigos coreanos Ji Hoon Kim, Seongheon Yook e Hyeon Hee Lee aproveitam a passagem pelo Centro para saborear temakis especiais preparados pelo sushiman Rodrigo Farias de Oliveira, o Seninha.
Alvo predileto dos turistas no centro da capital, os temakis do Mercado Público viraram febre entre os apaixonados por comida japonesa. Com opções no cardápio entre R$ 5 e R$ 10, o Shusi Seninha aposta no atendimento personalizado, na proximidade com os sushimen e num cardápio com mais opções.
Segue a trilha aberta pelo concorrente Japesca. O sushibar e restaurante instalado no Mercado Público começou como uma aposta tímida do empresário, mas as longas filas no horário do almoço mostram que a ideia foi bem recebida.
Quem come no balcão tem a vantagem de experimentar algumas invenções exclusivas do chef, que muitas vezes chegam ao cliente como cortesia. As promoções também são outro diferencial do Seninha.
Com o aroma das ideias
Como decorrência de programas culturais ou reuniões de negócios, as cafeterias costumam ser muito frequentadas pela classe média e média alta no centro da cidade. Foi apostando nesse público que o Café à Brasileira consolidou seu espaço na Rua Uruguai, onde está instalado há 15 anos.
— O negócio não está maior, ou com um público novo. Ele simplesmente nunca parou de crescer – afirma o proprietário, José Ângelo Gouveia.
Entre os visitantes estão profissionais liberais, funcionários públicos e aposentados. Em pesquisa realizada há alguns anos, Gouveia constatou que a renda média dos clientes era de R$ 4 mil.
Seguindo o aroma de bons negócios, outras opções surgem, como o Café do Porto da nova loja Renner, na Rua da Praia. No terceiro andar do prédio da antiga Livraria do Globo, um memorial vai oferecer espaço de interatividade entre cultura e consumo. Segundo o arquiteto responsável, Alexandre Cohen, a obra representa uma demonstração do apelo de compra aliado à memória afetiva da população.
Cultura é outro atrativo
Prédios históricos, museus em abundância, bares e cafeterias charmosos. Eis uma fórmula certeira para atrair gente interessada em vida cultural e consumo diferenciado e que vem dando certo no Centro. Jovens, intelectuais e turistas que encerravam visitas a exposições e precisavam ir até a Cidade Baixa ou a Padre Chagas para desfrutar dos pontos de lazer passaram a encontrar opções no coração da cidade.
Casas de sushi, como Seninha e Japesca, no Mercado Público, champanharias como a nova Six e a conhecida Ovelha Negra, na Duque de Caxias, e o Chalé da Praça XV tornaram-se pontos de encontro para grupos.
— Revitalizações de regiões centrais ocorrem em grandes cidades. Essas áreas, outrora pontos de encontro social e de consumo, decaíram com a expansão das metrópoles e a popularização dos shopping centers. Precisaram ser recuperados e, então, tornaram-se atrações — explica o coordenador do Viva o Centro, Glênio Bohrer.
Foi assim em Barcelona, onde a região central e portuária foi recuperada para os Jogos Olímpicos de 1992, e no Rio de Janeiro, onde o Centro, antes dominado por prédios velhos e malcuidados, recebeu novos empreendimentos e se tornou um dos locais mais procurados para um chope no final de tarde.
Grandes redes de comércio e restaurantes que cobiçam um público de maior poder aquisitivo e mais descolado voltam seus olhos ao potencial da região.
Bistrôs, cafeterias com origem em shopping centers e lojas que atendem a consumidores das classes A e B estão voltando a investir no centro histórico da Capital. Diversas inaugurações ocorreram em espaços de antigas galerias, cinemas ou espaços antes ocupados por negócios populares.
Inaugurada em novembro, a Paquetá da esquina da Rua dos Andradas com a Avenida Borges de Medeiros, onde antes funcionava a Gaston, foi concebida para atender a um público mais exigente.
Com investimento de R$ 1 milhão, recebeu decoração e iluminação idêntica às unidades de shoppings e uma área masculina exclusiva para atender a empresários e executivos que trabalham na região.
— O centro voltou a ser atraente para a classe B — avalia Paulina Bacher, gerente de marketing da Paquetá.
São duas explicações para a retomada do interesse na área: a ascensão da classe média, que tem no comércio de rua um espaço de lazer, convivência e consumo, e as obras de melhoria nos últimos anos, que trouxeram mais organização à área, atraindo clientes mais endinheirados.
— Com mais acesso à informação e dinheiro no bolso, a classe média está à procura de marcas conhecidas, e as empresas maiores se movimentam para atendê-la — afirma Artur Vasconcellos, coordenador da área de mercado de pós-graduação da ESPM-Sul.
A redescoberta do comércio do Centro se dá em harmonia com as características históricas e culturais da região. A Lojas Renner prepara a inauguração de uma loja no antigo prédio da Livraria do Globo, na Andradas, tombado como patrimônio histórico de Porto Alegre.
Para adequar o negócio à estrutura do prédio, foram restaurados parapeitos, paredes de tijolo à vista e tubulações aparentes. O investimento na loja chega a R$ 14 milhões.
O resultado é um espaço diferente de qualquer outro dos 164 pontos de venda da empresa no Brasil, com um memorial da cidade e um Café do Porto, rede conhecida por cafeterias em locais frequentados pela classe média alta.
— Custaria menos inaugurar uma loja em um prédio normal, mas quisemos contribuir com a recuperação do prédio — afirma José Galló, diretor-presidente da Lojas Renner.
Ressurgido para o consumo, o Centro deverá permanecer receptivo aos negócios. A recuperação da área do Cais do Porto reforça a tendência.
— O Centro deve se tornar o principal local de convívio social nos próximos anos, atraindo novos negócios — afirma Gustavo Schifino, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas da Capital (CDL).
Desde 2005, o Projeto Viva o Centro, liderado pela prefeitura com participação privada, rendeu investimentos ao redor de R$ 80 milhões, calcula o coordenador do Viva o Centro, Glênio Bohrer.
Os pontos da sofisticação
A popularização do espumante pega carona na elitização do centro de Porto Alegre. Enquanto as champanharias buscam diminuir o estereótipo dos públicos A e B, algumas lojas do centro querem atingir consumidores mais abastados. O sucesso das champanharias no centro histórico surge nessa brecha.
Frequentadas por profissionais que trabalham no centro, como funcionários públicos, advogados e políticos, recebem pessoas que se deslocam de outros bairros até a Rua Duque de Caxias para encontrar os amigos e degustar a bebida por preços mais acessíveis. A iniciativa de popularizar o espumante foi da Ovelha Negra, instalada na esquina da Bento Martins desde 2004.
Hoje, a pioneira já mostra uma tendência. Para quem, além do espumante, gosta de jazz e charutos, uma nova opção é a Six Champanheria e Charutaria, aberta há três meses. Localizado na esquina da Rua General Cipriano Ferreira, o local tem mesas de madeira, luz indireta e uma sala dedicada para apreciadores para quem quiser fumar.
Oriental e descolado
Ao voltar das aulas de português na Faculdade de Letras da UFRGS, os amigos coreanos Ji Hoon Kim, Seongheon Yook e Hyeon Hee Lee aproveitam a passagem pelo Centro para saborear temakis especiais preparados pelo sushiman Rodrigo Farias de Oliveira, o Seninha.
Alvo predileto dos turistas no centro da capital, os temakis do Mercado Público viraram febre entre os apaixonados por comida japonesa. Com opções no cardápio entre R$ 5 e R$ 10, o Shusi Seninha aposta no atendimento personalizado, na proximidade com os sushimen e num cardápio com mais opções.
Segue a trilha aberta pelo concorrente Japesca. O sushibar e restaurante instalado no Mercado Público começou como uma aposta tímida do empresário, mas as longas filas no horário do almoço mostram que a ideia foi bem recebida.
Quem come no balcão tem a vantagem de experimentar algumas invenções exclusivas do chef, que muitas vezes chegam ao cliente como cortesia. As promoções também são outro diferencial do Seninha.
Com o aroma das ideias
Como decorrência de programas culturais ou reuniões de negócios, as cafeterias costumam ser muito frequentadas pela classe média e média alta no centro da cidade. Foi apostando nesse público que o Café à Brasileira consolidou seu espaço na Rua Uruguai, onde está instalado há 15 anos.
— O negócio não está maior, ou com um público novo. Ele simplesmente nunca parou de crescer – afirma o proprietário, José Ângelo Gouveia.
Entre os visitantes estão profissionais liberais, funcionários públicos e aposentados. Em pesquisa realizada há alguns anos, Gouveia constatou que a renda média dos clientes era de R$ 4 mil.
Seguindo o aroma de bons negócios, outras opções surgem, como o Café do Porto da nova loja Renner, na Rua da Praia. No terceiro andar do prédio da antiga Livraria do Globo, um memorial vai oferecer espaço de interatividade entre cultura e consumo. Segundo o arquiteto responsável, Alexandre Cohen, a obra representa uma demonstração do apelo de compra aliado à memória afetiva da população.
Cultura é outro atrativo
Prédios históricos, museus em abundância, bares e cafeterias charmosos. Eis uma fórmula certeira para atrair gente interessada em vida cultural e consumo diferenciado e que vem dando certo no Centro. Jovens, intelectuais e turistas que encerravam visitas a exposições e precisavam ir até a Cidade Baixa ou a Padre Chagas para desfrutar dos pontos de lazer passaram a encontrar opções no coração da cidade.
Casas de sushi, como Seninha e Japesca, no Mercado Público, champanharias como a nova Six e a conhecida Ovelha Negra, na Duque de Caxias, e o Chalé da Praça XV tornaram-se pontos de encontro para grupos.
— Revitalizações de regiões centrais ocorrem em grandes cidades. Essas áreas, outrora pontos de encontro social e de consumo, decaíram com a expansão das metrópoles e a popularização dos shopping centers. Precisaram ser recuperados e, então, tornaram-se atrações — explica o coordenador do Viva o Centro, Glênio Bohrer.
Foi assim em Barcelona, onde a região central e portuária foi recuperada para os Jogos Olímpicos de 1992, e no Rio de Janeiro, onde o Centro, antes dominado por prédios velhos e malcuidados, recebeu novos empreendimentos e se tornou um dos locais mais procurados para um chope no final de tarde.
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