Mesmo atormentados, indianos continuam alimentando macacos nas ruas de Nova Déli
Tradição hindu pede que animais sejam alimentados às terças e aos sábados
Mesmo sendo importunados, devotos do deus Hanuman distribuem alimentos aos macacos Rhesus Foto: Suzanne Lee / NYTNS
Gardiner Harris
Nova Déli — O primeiro intruso surgiu à sua frente na calçada e ergueu a mão, em silêncio. O segundo apareceu por trás dela e apontou para a sacola. Maeve O'Connor estava cercada. Resistir teria sido perigoso, então Maeve entregou o que eles pediam. Os dois se afastaram, arrogantemente. O encontro durou cerca de 15 segundos — apenas mais um roubo coordenado por macacos Rhesus numa cidade cada vez mais atormentada por eles.
— Eu tinha outras sacolas comigo, mas eles sabiam qual delas tinha pão fresco. Eles foram totalmente silenciosos, rápidos e altamente eficientes — disse ela.
A população de macacos em Déli tornou-se tão grande e agressiva que autoridades da cidade solicitaram à Suprema Corte indiana que o governo municipal fosse auxiliado na tarefa de controle.
— Prendemos 13.013 macacos desde 2007 — afirmou R. B. S. Tyagi, diretor de serviços veterinários do governo de Déli.
Mesmo assim, a população de macacos só aumentou. A razão é simples: as pessoas os alimentam. Os macacos são os representantes vivos do deus Hanuman, e a tradição hindu pede que os macacos sejam alimentados às terças e aos sábados. Tyagi mostrou impaciência com os moradores que num dia alimentam os macacos, e quando os animais roubam suas roupas, vêm reclamar do governo.
A agência de Tyagi pediu ajuda ao órgão municipal de vida selvagem, mas funcionários deste último alegam que os macacos — uma praga na cidade desde que a urbanização tomou conta de seu habitat natural — não são mais selvagens e, portanto, fogem de sua responsabilidade.
— Esse problema nunca será resolvido enquanto os hindus derem comida regularmente aos macacos. Divulgamos muitos anúncios pedindo que as pessoas não alimentem macacos em locais públicos — garantiu R. M. Shukla, principal responsável pela vida selvagem na cidade.
Em 2007, um subprefeito de Déli foi atacado por macacos, caiu de sua sacada e morreu — um episódio que estimulou a cidade a aumentar os esforços para levar os macacos a ambientes mais seguros. Mesmo assim, os ataques continuam. Em maio, uma menina de 14 anos ficou gravemente ferida quando caiu do telhado de um prédio residencial de cinco andares após ser perseguida pelos animais.
— É comum macacos morderem pessoas, e os ferimentos podem ser extensos. Eles são espertos o bastante para atacar frequentemente o rosto da pessoa — explicou Anthony S. Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas em Bethesda, Maryland.
Embora as mordidas de macacos possam causar raiva ou uma forma fatal do vírus do herpes, os casos documentados são "praticamente inexistentes", continuou Fauci. No entanto, infecções bacterianas de pele são comuns — e podem ser tratadas com antibióticos. Em Déli, sobram histórias sobre macacos invadindo casas, arrancando fiações, furtando roupas e mordendo aqueles que os surpreendem.
Eles tratam o prédio do parlamento indiano como playground, invadiram o gabinete do primeiro-ministro e do Ministério da Defesa, às vezes viajam em ônibus e em trens do metrô, e expulsam diplomatas de seus jardins bem cuidados. Roopi Saran, moradora de Déli, já viu macacos roubarem balas das mãos de seus filhos. E tribos de macacos costumam aparecer em seu quintal, impedindo que ela e as crianças saiam de casa.
— Então ficamos dentro de casa como animais enjaulados, como se nós estivéssemos no zoológico e eles estivessem olhando para nós — comparou Saran.
Com o fracasso do programa público de captura, alguns moradores estão usando um macaco maior, chamado "langur", para urinar em volta de suas casas. O cheiro forte da urina afasta os macacos Rhesus durante semanas. Mas o odor não é nenhum perfume para os humanos — e, assim que desaparece, os macacos menores reaparecem.
Recentemente, num bairro diplomático de Déli, Amar Singh, um tratador de langurs, esperava tranquilamente enquanto seu macaco arrancava as folhas de uma árvore no jardim de uma bonita casa. O langur, um grande macaco de rosto preto dramaticamente emoldurado por pelos brancos, estava preso a um poste por uma correia de dois metros.
Singh alertou contra qualquer aproximação ao animal, pois "o tapa de um langur é tão forte que pode lançar uma pessoa dois metros para trás". Singh afirmou ter 65 langurs urinando em casas e prédios importantes da cidade toda. Ele e seus sócios alimentam e andam com cada macaco durante o dia, mas eles ficam presos aos postes durante a noite. Ele cobra cerca de US$ 200 por mês.
Segundo Yagi, os langurs simplesmente empurram os macacos Rhesus para as casas vizinhas. Há sete anos, a cidade começou a contratar catadores de macacos a US$ 5 por animal capturado. Há quatro anos o valor subiu para US$ 9, e hoje está em US$ 12.
— Apesar do aumento do valor, existem poucos catadores de macacos — afirmou ele.
Após anos sendo capturados em gaiolas com frutas e nozes como isca, os macacos aprenderam a evitar as armadilhas. Durante um tempo, a cidade contratou equipes profissionais altamente qualificadas de captura do sul da Índia; segundo Tyagi, porém, até mesmo essas equipes pararam de vir a Déli.
O estado de Hichamal Pradesh, no norte da Índia, emitiu autorizações para matar macacos que destruíam plantações, mas a prática gerou protestos e não está sendo considerada em Déli. Os macacos capturados são levados a um santuário no sul de Déli, mas os moradores da região dizem que suas vidas foram arruinadas pelo afluxo.
Os macacos escalam os muros com facilidade e retornam aos bairros centrais da cidade. Kali, que mora numa pequena cabana perto do santuário e usa apenas um nome, disse que sua filha e sobrinha foram mordidas duas vezes, exigindo viagens ao hospital e vacinas caras.
Após ser atacada durante o banho, hoje ela pede que seu marido monte guarda sempre que se lava. E para uma família pobre como a dela, os macacos são uma ameaça constante sob mais de um aspecto.
—Eu dou para eles as minhas sobras de comida, como pão roti. Mas eles fugiram com minhas cebolas — explicou ela.
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