sábado, 25 de fevereiro de 2012

Com mais de um ano de atraso, restauração da Biblioteca Pública do RS deve terminar em 2013


Conclusão estava prevista para o final de 2011, porém biblioteca deve ser reaberta parcialmente em 14 de abril


 

Com mais de um ano de atraso, restauração da Biblioteca Pública do RS deve terminar em 2013  Genaro Joner/Agencia RBS
A restauração iniciada há três anos faz surgir detalhes da arquitetura, como a pintura das salas

A restauração da Biblioteca Pública do Rio Grande do Sul, cuja conclusão estava prevista para o final de 2011, deve ocorrer apenas na metade de 2013.

Essa é a notícia ruim. A boa é que a biblioteca, na Rua Riachuelo, centro da Capital, deve ser reaberta parcialmente em 14 de abril e ganhar um anexo, no primeiro semestre.

A diretora da biblioteca, Morgana Malcon, alega que os percalços da restauração delicada de um prédio abandonado, os imprevistos e o rigor dos trabalhos justificam o atraso:

— A gente achava que iria executar até o fim de 2011, que teria captado os recursos e que não haveria tantos imprevistos. O trabalho foi mais lento. Não havia limite de prazo no contrato.

Para exemplificar o abandono, Morgana conta que, certa vez, o guarda do prédio ouviu o que pareciam vozes vindas de uma sala. Seria a comprovação de que a Biblioteca, de 1871, era mal-assombrada.

O vigia se aproximava do local de onde vinha o som. A origem era o busto do escritor Manoelito de Ornellas. Titubeante, o vigia fitava o busto, ouvia o som e se aproximava. Enchendo-se de coragem, levantou-o. Do interior da peça, voejou um morcego que fizera dela moradia.

— Era muito abandono. Surgiu uma obra de arte original inesperada, sob sete mãos de pintura. O vidro verde com relevo foi encontrado depois de três meses, na cor branca. Levamos um tempão para pigmentá-lo. A madeira que precisávamos, achamos em Mato Grosso — desfia ela.

Nos anos 50, o pintor Ado Malagoli, influenciado pelas tendências da época, passou tinta azul sobre a pintura original, com desenhos em cores. O argumento: a riqueza da pintura atrapalhava a leitura dos frequentadores, tirando-lhes a concentração. Há casos mais prosaicos.

Um afresco na Sala do Egito demorou a ser restaurado porque a caixa de água do prédio vizinho provocava umidade na parede. Custou para o condomínio fazer a obra que permitiu o começo da recuperação.

— Um restauro desses é complexo. Durante o trabalho, na medida em que tu retiras as coisas do lugar, surgem outras antes não vistas. São percalços que requerem ajustes, e o pessoal acaba levando anos no trabalho, que é hipercuidadoso — explica o engenheiro Paulo da Luz, especialista em restauro.

Em abril, a biblioteca faz 141 anos e serão anunciados o anexo, a abertura de parte do prédio da Riachuelo e o começo da terceira etapa do restauro.


Mais que uma biblioteca
- A Biblioteca Pública do Estado, criada em 1871, tem acervo de alto valor e um prédio tombado pelo patrimônio histórico estadual e federal, que passa por obras de restauro há três anos.
- Hoje, ela funciona, provisoriamente, na Casa de Cultura Mario Quintana.
- Há, na biblioteca, uma coleção de 240 mil volumes que representam o mais importante conjunto bibliográfico de salvaguarda da memória gaúcha e brasileira.
- Entre as raridades, há edições de La Divina Comedia, de Dante Alighieri, em edição de 1921 restrita a mil exemplares, Os Lusíadas, de Camões (edição de 1839), e manuscritos de João Simões Lopes Neto.
- Entre os ambientes mais valiosos do prédio histórico, destacam-se: o Salão Mourisco, o Salão Egípcio e a Sala Borges de Medeiros. No caso do Salão Egípcio, as paredes são revestidas por pinturas murais.
- Com o decorrer do tempo, o prédio passou a apresentar problemas estruturais, como infiltração no telhado e no subsolo, bem como desgaste e cupim nos assoalhos de madeira dos três andares.
- Pequena parte das obras de restauração foi realizada pelo programa Monumenta e concluída em 2008, a R$ 465 mil. Foi recuperado o elevador, parado havia mais de 20 anos, e contida parte da infiltração.
- Na segunda etapa de restauro, finalizada em dezembro de 2011, foram captados, com o BNDES, cerca de R$ 2,5 milhões, e restaurados o restante dos entrepisos e pisos de parquê dos três andares, as aberturas e seus ornamentos, a fachada, a tubulação e a climatização do prédio – nos três andares.
- Em 14 de abril, serão removidos tapumes da fachada e liberado o segundo andar para visitação.
- No mesmo dia, será anunciada a terceira etapa do restauro, que contemplará lustres e mobiliário, pinturas murais, elevador para cadeirantes, o jardim interno e demais ornamentos do prédio.

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