quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Perícia nesta quarta deve apontar causa da descarga elétrica que matou duas crianças em Jacutinga


Crianças estavam jogando futebol em quadra de escola quando receberam a descarga elétrica


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Perícia nesta quarta deve apontar causa da descarga elétrica que matou duas crianças em Jacutinga Marielise Ferreira/agencia rbs
Velório no Ginásio Municipal reúne familiares, amigos, colegas, professores e autoridades

A uma semana do reinício das aulas, a morte de duas crianças devido a uma descarga elétrica na quadra de esportes da escola, consternou a população de Jacutinga, município próximo a Erechim no norte do Estado. Iury Zulian, de oito anos e Leonardo Lodea, 11 anos, morreram depois de receber um choque ao encostar na tela que cercava a quadra.

No Ginásio municipal, centenas de pessoas choraram a perda dos garotos. Conternados, familiares, amigos, professores e autoridades se despediram de Iury e Leonardo. Crianças passaram mal e desmaiaram ao ver os colegas sendo velados no mesmo local em que se reuniam aos sábados para jogar futebol.

— Perdi minha relíquia — lamentava Gilson Lodea, com a fotografia do filho Leonardo nas mãos.

Leonardo atuava como goleiro na escolinha de futebol do município e sonhava em ser jogador profissional. Era sempre o primeiro a chegar ao Ginásio aos sábados pela manhã para os treinos. Assíduo, Leonardo levava à sério o esporte, mas sempre arrumava um tempo para auxiliar a mãe Marli, em casa e o pai Gilson, na propriedade rural. Sua paixão era ver o trator e a colheitadeira na lavoura.

— Ele dizia que quando se aposentasse do futebol ia voltar pra casa pra me ajudar na roça — conta o pai.

Aos 11 anos, Leonardo havia passado para o sexto ano na escola municipal. Apontado pelos colegas como um menino calmo, Leonardo não gostava de brigas e não raras vezes intermediava para que os amigos fizessem as pazes.

— Era sempre respeitoso com os mais velhos, menino que não faltava aula por nada —conta a secretária municipal Marlene de Aguiar Fistarol.

Iury, que torcia acaloradamente para o inter, e jogava como meio de campo, também sonhava com o futuro no futebol, até mesmo quando se divertia com jogos da Fifa, no computador. O menino que se media diariamente porque queria crescer rápido para chegar à altura dos irmãos, de 17 e 19 anos, ajudava a cuidar da casa enquanto a mãe Solessi Lansana, 42 anos, estava trabalhando. Carinhoso e obediente, sempre tinha um abraço para a avó Eduardina Zulian, de 85 anos que visitou no dia do acidente.

— Era um anjo, escutava com paciência tudo o que a gente falava. Ele me disse que me amava e que viria me visitar mais vezes, mas agora ele se foi — lamentou a avó.

Menino alegre, só perdia o sorriso quando falava da separação dos pais, que ainda o entristecia. Iury estava ansioso para retornar às aulas e na última semana não cansava de arrumar a mochila e os cadernos. Este ano, ele cursaria o quarto ano do ensino fundamental.

No momento do acidente, sete crianças jogavam bola na quadra. Ao ver que o céu escurecia anunciando um temporal, eles se prepararam para ir embora.

— Apostamos uma corrida dentro da quadra. O Leonardo e o Iury chegaram antes e quando encostaram na cerca ficaram presos. A gente tentou tirar, mas também levou choque — contou um dos meninos.

O menor dos garotos, Gabriel, de sete anos, conseguiu passar pelo buraco e pediu socorro. Eles foram levados para o Hospital São Judas Tadeu, mas para dois deles era tarde demais. Iury e Leonardo foram enterrados no final da tarde de ontem, no cemitério municipal.

Interditado desde a noite de segunda-feira, quando aconteceu o acidente, o local será submetido a perícia nesta quarta-feira, para descobrir a origem da descarga. Construída em 2008 com recursos do Governo Federal no programa Segundo Tempo, a quadra era utilizada pela Escola Municipal de Ensino Fundamental Darvile Dall'Oglio. Ao longo da tela, vários buracos davam acesso à quadra.

— A gente sabia que eles iam lá, todas as crianças vão. O que nunca imaginamos é que tinha fios largando energia na cerca — contou a mãe de Iury.

O delegado de polícia José Angelo Marcolin instaurou inquérito para apurar a responsabilidade sobre o caso. A polícia acredita que um fio estendido desde o prédio da Casa da Terceira Idade, e amarrado na tela que cerca a quadra para levar luz ao vestiário da quadra de esportes, tenha se rompido ou desencapado, liberando energia para a cerca. Conforme o vice-prefeito Gelssi Lodea, a ligação teria sido feita pela empreiteira ainda durante a construção da quadra e nunca foi retirada.

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