sexta-feira, 16 de março de 2012

Arcebispo e jurista aderem à campanha pela volta dos crucifixos em salas do Judiciário gaúcho


Dom Dadeus Grings e Paulo Brossard condenam a retirada do símbolo cristão dos tribunais do RS


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Arcebispo e jurista aderem à campanha pela volta dos crucifixos em salas do Judiciário gaúcho Diego Vara/Agencia RBS
Em encontro na Cúria Metropolitana, Brossard (E) e Dadeus discutiram o tema dos crucifixos e também assuntos mais amenos

A reação católica contra a retirada de crucifixos das salas da Justiça Estadual ganhou na quinta-feira o apoio do arcebispo dom Dadeus Grings e do jurista Paulo Brossard de Souza Pinto.

Ao condenar a retirada das cruzes e justificar a visita que fez ao arcebispo na sede da Cúria Metropolitana, um palacete nos fundos da Igreja Matriz de Porto Alegre, Brossard, 87 anos, foi enfático:

— Vivemos tempos apocalípticos.

“Tempos apocalípticos” também é o título do artigo publicado por Brossard em Zero Hora na segunda-feira passada. Nele, o jurista desanca a decisão de retirar crucifixos dos prédios do Judiciário, tomada pelo Conselho da Magistratura do Tribunal de Justiça (TJ) sob justificativa de que, no Brasil, Estado e Igreja são separados. A retirada das cruzes foi pedida por entidades de defesa dos homossexuais e feministas.

No texto, Brossard – ex-ministro da Justiça, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, ex-senador e, hoje, advogado – argumentou que a figura de Cristo aparece nos tribunais porque ele foi injustiçado e lembra aos juízes os seus deveres de isenção.

— Cristo foi julgado seis vezes, três pelos romanos e três pelos judeus. Foram julgamentos nos quais não foi respeitado o rito processual. Pôncio Pilatos (o governador romano da Judeia), por exemplo, foi um juiz covarde. Lavou as mãos na hora de decidir — escreveu Brossard.

Pois a erudição do jurista também aflorou na visita ao templo dos católicos gaúchos. Ao deparar com o portão de sete metros de altura que separa a Cúria dos jardins do Palácio Piratini, Brossard gracejou:

— Essa ligação é do tempo em que a Igreja Católica era religião oficial do Estado brasileiro. Hoje não é mais, não há motivo para os magistrados se preocuparem.

Brossard desembarcou na Cúria a caráter: chapéu panamá, terno e bengala. Foi seu primeiro encontro privado com dom Dadeus.

— Ah, não dispenso indumentária a caráter, nem no calor. Sou do tempo em que uma pessoa de classe média não saía de casa sem esses adereços — justificou.

Dom Dadeus, que também estava de terno, concordou e lembrou do cabide na sala da casa em que passou a infância, em Nova Petrópolis.

— Coisas que desapareceram, infelizmente — lamentou o arcebispo, sob o olhar de concordância de Brossard.

O arcebispo de 75 anos aproveitou a visita para conduzir pelo braço Brossard a um passeio pela residência episcopal. Comentou que a catedral é uma réplica da Basílica de São Pedro, em Roma, “com a diferença que a nossa ficou pronta e a de lá ainda está em obras, há centenas de anos”.

Os dois falaram também dos ilustres antecessores do arcebispo, como dom Vicente Scherer, a quem Brossard disse ter “visitado umas mil vezes no tempo da ditadura”. O jurista confirmou que continua frequentando a Igreja Matriz, “agora apenas para rezar e não para confabular”.

Juras de apoio a causas em comum

A conversa alternou amenidades e política – e também amenidades políticas. O arcebispo recordou que um de seus antecessores, dom Sebastião Laranjeira, era muito amigo do mentor ideológico de Brossard, o também jurista maragato Gaspar Silveira Martins.

— Quando chefe do parlamento, o Silveira Martins conseguiu uma verba para a Igreja. Em agradecimento, dom Sebastião mandou pintar um retrato desse grande tribuno maragato — informou dom Dadeus.

Brossard gostou da informação. Maragato histórico, Brossard aproveitou para alfinetar seus adversários ideológicos, os adeptos de Júlio de Castilhos e do positivismo.

— O positivismo, sim, foi uma espécie de religião oficial nos governos ditatoriais e tirânicos dos castilhistas. Nem comparar com o que ocorre hoje entre católicos e o Estado, apenas tolerantes um com o outro — criticou o jurista.

Na mesma tarde em que o líder dos católicos gaúchos e um dos seus maiores tribunos se visitavam, a Associação dos Juristas Católicos do RS ingressou com uma representação no Conselho da Magistratura do TJ, pedindo a volta dos crucifixos aos espaços do Poder Judiciário gaúcho.

Uma possível reconsideração pode ocorrer até nesta sexta-feira. Brossard disse que apoia a iniciativa, mas que não ajudou a redigir o manifesto dos colegas católicos.

Em uma hora de conversa reservada e meia hora de exposição pública durante o passeio no jardim, dom Dadeus e Brossard convergiram para a defesa da presença da cruz nos prédios públicos. Foi o arcebispo quem preferiu definir a posição de ambos.

— O Brasil é um país católico e democrático. Aqui cabem todos os credos. Mas um pequeno grupo não pode mandar nos destinos da maioria. Espero que os desembargadores vejam que a maioria é a favor do crucifixo — resumiu Dom Dadeus.

O arcebispo levou pelo braço o tribuno até o portão da Cúria e ali se despediram. Com solenidade e juras de apoio a causas em comum.

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