Pelo menos 285 mil gaúchos enfrentam racionamento
Segundo a Defesa Civil, há 143 municípios em situação de emergência devido à falta de chuva
Represa em Vacaria está bem abaixo do nível normal
Sete meses. Em junho, a seca fará um dos mais longos aniversários consecutivos da história no Estado. Mais de 285 mil gaúchos enfrentam racionamento de água diário em sete municípios. A falta de chuva faz com que 143 municípios estejam em situação de emergência, segundo a Defesa Civil. A população atingida ultrapassa 750 mil. E pode crescer ainda mais.
Torneiras secas por horas ao longo do dia é a dura rotina de cinco cidades com sistema próprio de abastecimento: Bagé, Benjamin Constant do Sul, Ibirapuitã, Centenário e Floriano Peixoto. Dos 325 municípios atendidos pela Corsan, dois também racionam: Erechim e Vacaria. Em outras a medida extrema não foi tomada. Ainda. Segundo a companhia, a situação é de alerta em Silveira Martins, Agudo, Restinga Seca, Canguçu e São Marcos.
Sem água durante 14 horas por dia, o comerciante Jucelino José Mioto, 57 anos, teve que mudar os hábitos. Até o horário do banho ele antecipou. Precavido, fez uma tabela com a programação da semana e diariamente usa panelas e vasilhas para armazenar o que pode antes de o prazo esgotar. O preço da conta de água diminuiu, mas Mioto garante que não se importaria em pagar mais para ter o líquido à vontade.
— Tem que pensar tudo com antecedência para não ficar em apuros. Nunca vi problema tão grande desde que nasci — conta.
Enquanto amarga a seca em casa, Mioto pelo menos comemora o aumento nas vendas de água mineral no mercado da família. A procura é tanta que hoje ele vende em uma semana o que antes demorava dois meses. Em contrapartida, a falta de água prejudica empresas que precisam do líquido no dia a dia. Nos bombeiros, um reservatório garante tranqüilidade em caso de incêndio. Mesmo assim, a ânsia por chuva é imensa.
Para atender a demanda da população, a Corsan leva 2,4 milhões de litros de água por dia com caminhão-pipa até a estação de tratamento. A água é captada em rios de municípios da região por aproximadamente 15 caminhões, que fazem várias viagens por dia. Obras emergenciais, racionamento e alerta permanente têm conseguido estabilizar o baixo nível da barragem de captação. Mas a meta é reduzir ainda mais o consumo de aproximadamente 22 milhões de litros por dia.
Perto dali, Benjamin Constant do Sul raciona água há mais de 75 dias. Das 7h às 11h e das 13h às 18h, as torneiras ficam secas. A prefeitura precisa comprar água de poços artesianos em municípios vizinhos. Em Ibirapuitã, o racionamento começou há uma semana. O abastecimento é interrompido das 13h às 17h. Só acabará quando a chuva, que não vem há dois meses, normalize a situação dos poços artesianos.
— Além da escassez na cidade, há 40 famílias sem água no interior — lamenta Aocildo Francisco Zandonai, secretário municipal de Obras de Ibirapuitã.
O drama da seca também castiga Centenário. O município passa a noite sem água. Das 19h às 7h do dia seguinte, não há abastecimento. Um poço já existente será ampliado para tentar solucionar o problema. No interior, a água só chega por caminhão-pipa, uma realidade semelhante à de pelo menos 20 municípios no norte do Estado.
Um deles é Floriano Peixoto. Mas enquanto na área rural o transporte ameniza a dificuldade, na cidade é preciso ficar sem água quatro horas por dia. Desde janeiro, o abastecimento é interrompido das 13h às 17h. Instaurada como prevenção, a medida virou necessidade devido à falta de chuva. Três poços abastecem o perímetro urbano e um quarto foi perfurado, mas falta dinheiro para a canalização.
Em 2005, mais de 1 milhão de gaúchos ficaram sem água em 25 municípios abastecidos pela Corsan. Apesar de o número ser menor neste ano, o diretor de Operações da companhia, Ricardo Rover Machado, não hesita: a seca atual é pior, pois a falta de chuva é prolongada. Ele atribui o menor impacto em relação à tormenta de sete anos atrás aos investimentos emergenciais em infraestrutura feitos na época. E apela para que as pessoas usem a água com cuidado até que a chuva reapareça.
— As obras amenizam, mas o foco maior delas é a prevenção futura. Hoje, é preciso economizar e qualquer litro faz muito diferença — conclui.
*Colaborou Marielise Ferreira
Combate ao desperdícioO risco de racionamento preocupa Passo Fundo, no norte do Estado. No município, obras emergenciais e conscientização são as opções para enfrentar a mais longa estiagem em 60 anos. A Corsan perfura poços e investe pelo menos R$ 2 milhões para transpor de água de um poço e do Rio Jacuí para as áreas de captação. O objetivo é reduzir em 20% o consumo de 55 milhões de litros diários. Até um disque-denúncia foi criado para evitar o desperdício de água.
— Não cogitamos racionar, mas as ações só terão resultado se a população ajudar a reduzir o consumo — ressalta Paulo Berta, superintendente regional da Corsan.
A população de Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, também está em alerta. O município decretou situação de emergência nesta segunda-feira. A estimativa é que 90% dos reservatórios de água no interior estão prejudicados pela seca. Diariamente, a prefeitura recebe 40 pedidos de abastecimento. Diante da escassez, a prefeitura proibiu por decreto que se desperdice água. Quem for flagrado pela fiscalização será notificado e até multado em caso de reincidência.
Cartão EstiagemDevido ao drama dos agricultores, o Governo do Estado anunciou a criação do Cartão Emergência Rural ou Cartão Estiagem. A meta é liberar R$ 45 milhões do orçamento para beneficiar 100 mil famílias com renda de até R$ 18 mil, oito mil famílias de assentados da reforma agrária e 1,2 mil famílias quilombolas em municípios com decreto de emergência.
Estão disponíveis R$ 400 para famílias de agricultores familiares e R$ 500 para famílias assentadas e quilombolas. Para se inscrever, basta procurar as entidades representativas. O Governo do Estado também anistiou R$ 6,7 milhões de dívidas de agricultores com o Banrisul referentes ao programa Mais Alimentos. A medida deve beneficiar mais de seis mil agricultores.
— A medida busca motivar o agricultor para que esteja preparado para a futura safra — destaca Ivar Pavan, secretário estadual de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo.
Previsão desanimaO fenômeno climático La Niña – em que ocorre o resfriamento do Oceano Pacífico e tem redução das chuvas – começou a afetar o clima do Estado na primavera passada, considerado o período mais chuvoso. Em janeiro, fevereiro e início de março, as temperaturas altas evaporaram a reserva de água. A seca se estendeu até o outono porque o La Niña só deixou de interferir no clima em abril.
Diante desse cenário, a previsão dos meteorologistas é que a situação melhore a partir da segunda quinzena de junho. Até lá, a perspectiva não é animadora. De acordo com o meteorologista da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do RS (Fepagro), Glauco Freitas, há previsão de chuvas mais constantes nos próximos 20 dias no RS, mas em volume insuficiente para reverter o quadro.
— É difícil projetar como será o clima a partir de julho, mas há perspectiva de chuvas mais expressivas a partir do fim do inverno — observa Freitas.
Números da seca — Em 2005, em uma das piores secas do Estado, 25 municípios abastecidos pela Corsan entraram em racionamento. A população atingida, segundo a companhia, foi de 1 milhão.
— Em 2006, houve racionamento em três municípios atendidos pela Corsan. A medida afetou 32,4 mil pessoas.
— Em 2012, mais de 285 mil gaúchos enfrentam racionamento em sete municípios. Destes, só dois são abastecidos pela Corsan: Erechim e Vacaria.
— Há 143 municípios com decreto de situação emergência homologado pela Defesa Civil. A população atingida ultrapassa 750 mil. Em três municípios, as notificações de desastre ainda estão em análise.
Torneiras secas por horas ao longo do dia é a dura rotina de cinco cidades com sistema próprio de abastecimento: Bagé, Benjamin Constant do Sul, Ibirapuitã, Centenário e Floriano Peixoto. Dos 325 municípios atendidos pela Corsan, dois também racionam: Erechim e Vacaria. Em outras a medida extrema não foi tomada. Ainda. Segundo a companhia, a situação é de alerta em Silveira Martins, Agudo, Restinga Seca, Canguçu e São Marcos.
Sem água durante 14 horas por dia, o comerciante Jucelino José Mioto, 57 anos, teve que mudar os hábitos. Até o horário do banho ele antecipou. Precavido, fez uma tabela com a programação da semana e diariamente usa panelas e vasilhas para armazenar o que pode antes de o prazo esgotar. O preço da conta de água diminuiu, mas Mioto garante que não se importaria em pagar mais para ter o líquido à vontade.
— Tem que pensar tudo com antecedência para não ficar em apuros. Nunca vi problema tão grande desde que nasci — conta.
Enquanto amarga a seca em casa, Mioto pelo menos comemora o aumento nas vendas de água mineral no mercado da família. A procura é tanta que hoje ele vende em uma semana o que antes demorava dois meses. Em contrapartida, a falta de água prejudica empresas que precisam do líquido no dia a dia. Nos bombeiros, um reservatório garante tranqüilidade em caso de incêndio. Mesmo assim, a ânsia por chuva é imensa.
Para atender a demanda da população, a Corsan leva 2,4 milhões de litros de água por dia com caminhão-pipa até a estação de tratamento. A água é captada em rios de municípios da região por aproximadamente 15 caminhões, que fazem várias viagens por dia. Obras emergenciais, racionamento e alerta permanente têm conseguido estabilizar o baixo nível da barragem de captação. Mas a meta é reduzir ainda mais o consumo de aproximadamente 22 milhões de litros por dia.
Perto dali, Benjamin Constant do Sul raciona água há mais de 75 dias. Das 7h às 11h e das 13h às 18h, as torneiras ficam secas. A prefeitura precisa comprar água de poços artesianos em municípios vizinhos. Em Ibirapuitã, o racionamento começou há uma semana. O abastecimento é interrompido das 13h às 17h. Só acabará quando a chuva, que não vem há dois meses, normalize a situação dos poços artesianos.
— Além da escassez na cidade, há 40 famílias sem água no interior — lamenta Aocildo Francisco Zandonai, secretário municipal de Obras de Ibirapuitã.
O drama da seca também castiga Centenário. O município passa a noite sem água. Das 19h às 7h do dia seguinte, não há abastecimento. Um poço já existente será ampliado para tentar solucionar o problema. No interior, a água só chega por caminhão-pipa, uma realidade semelhante à de pelo menos 20 municípios no norte do Estado.
Um deles é Floriano Peixoto. Mas enquanto na área rural o transporte ameniza a dificuldade, na cidade é preciso ficar sem água quatro horas por dia. Desde janeiro, o abastecimento é interrompido das 13h às 17h. Instaurada como prevenção, a medida virou necessidade devido à falta de chuva. Três poços abastecem o perímetro urbano e um quarto foi perfurado, mas falta dinheiro para a canalização.
Em 2005, mais de 1 milhão de gaúchos ficaram sem água em 25 municípios abastecidos pela Corsan. Apesar de o número ser menor neste ano, o diretor de Operações da companhia, Ricardo Rover Machado, não hesita: a seca atual é pior, pois a falta de chuva é prolongada. Ele atribui o menor impacto em relação à tormenta de sete anos atrás aos investimentos emergenciais em infraestrutura feitos na época. E apela para que as pessoas usem a água com cuidado até que a chuva reapareça.
— As obras amenizam, mas o foco maior delas é a prevenção futura. Hoje, é preciso economizar e qualquer litro faz muito diferença — conclui.
*Colaborou Marielise Ferreira
Combate ao desperdícioO risco de racionamento preocupa Passo Fundo, no norte do Estado. No município, obras emergenciais e conscientização são as opções para enfrentar a mais longa estiagem em 60 anos. A Corsan perfura poços e investe pelo menos R$ 2 milhões para transpor de água de um poço e do Rio Jacuí para as áreas de captação. O objetivo é reduzir em 20% o consumo de 55 milhões de litros diários. Até um disque-denúncia foi criado para evitar o desperdício de água.
— Não cogitamos racionar, mas as ações só terão resultado se a população ajudar a reduzir o consumo — ressalta Paulo Berta, superintendente regional da Corsan.
A população de Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, também está em alerta. O município decretou situação de emergência nesta segunda-feira. A estimativa é que 90% dos reservatórios de água no interior estão prejudicados pela seca. Diariamente, a prefeitura recebe 40 pedidos de abastecimento. Diante da escassez, a prefeitura proibiu por decreto que se desperdice água. Quem for flagrado pela fiscalização será notificado e até multado em caso de reincidência.
Cartão EstiagemDevido ao drama dos agricultores, o Governo do Estado anunciou a criação do Cartão Emergência Rural ou Cartão Estiagem. A meta é liberar R$ 45 milhões do orçamento para beneficiar 100 mil famílias com renda de até R$ 18 mil, oito mil famílias de assentados da reforma agrária e 1,2 mil famílias quilombolas em municípios com decreto de emergência.
Estão disponíveis R$ 400 para famílias de agricultores familiares e R$ 500 para famílias assentadas e quilombolas. Para se inscrever, basta procurar as entidades representativas. O Governo do Estado também anistiou R$ 6,7 milhões de dívidas de agricultores com o Banrisul referentes ao programa Mais Alimentos. A medida deve beneficiar mais de seis mil agricultores.
— A medida busca motivar o agricultor para que esteja preparado para a futura safra — destaca Ivar Pavan, secretário estadual de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo.
Previsão desanimaO fenômeno climático La Niña – em que ocorre o resfriamento do Oceano Pacífico e tem redução das chuvas – começou a afetar o clima do Estado na primavera passada, considerado o período mais chuvoso. Em janeiro, fevereiro e início de março, as temperaturas altas evaporaram a reserva de água. A seca se estendeu até o outono porque o La Niña só deixou de interferir no clima em abril.
Diante desse cenário, a previsão dos meteorologistas é que a situação melhore a partir da segunda quinzena de junho. Até lá, a perspectiva não é animadora. De acordo com o meteorologista da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do RS (Fepagro), Glauco Freitas, há previsão de chuvas mais constantes nos próximos 20 dias no RS, mas em volume insuficiente para reverter o quadro.
— É difícil projetar como será o clima a partir de julho, mas há perspectiva de chuvas mais expressivas a partir do fim do inverno — observa Freitas.
Números da seca — Em 2005, em uma das piores secas do Estado, 25 municípios abastecidos pela Corsan entraram em racionamento. A população atingida, segundo a companhia, foi de 1 milhão.
— Em 2006, houve racionamento em três municípios atendidos pela Corsan. A medida afetou 32,4 mil pessoas.
— Em 2012, mais de 285 mil gaúchos enfrentam racionamento em sete municípios. Destes, só dois são abastecidos pela Corsan: Erechim e Vacaria.
— Há 143 municípios com decreto de situação emergência homologado pela Defesa Civil. A população atingida ultrapassa 750 mil. Em três municípios, as notificações de desastre ainda estão em análise.
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