Especialistas defendem aproximação da assistência social com outras áreas para combater aumento de crianças de rua
Painel RBS especial realizado nesta segunda-feira reuniu seis representantes de órgãos públicos para debater o assunto
Após reportagem encartada na edição dominical de Zero Hora revelar como surge um menino de rua, o Painel RBS realizou, na manhã desta segunda-feira, o especial Filho da Rua — Alternativas para o Drama dos Meninos das Esquinas.
No evento, seis representantes das esferas públicas debateram a situação atual em que vive o Estado do Rio Grande do Sul, tanto na prevenção como no combate ao aumento de crianças vivendo ao relento.
Mediado pelo jornalista da Rádio Gaúcha André Machado e com a participação dos repórteres Letícia Duarte, responsável pelo projeto de ZH, e Manoel Soares, da RBS TV, o painel abordou as principais causas da fuga de menores de seus lares. Em três blocos de conversa, os convidados salientaram a necessidade de aproximar os órgãos de assistência social com as outras áreas.
— O diálogo precisa ser mais próximo à Saúde, Educação, Esporte, Cultura. Assim como os espaços de lazer nas comunidades têm de ser mais atrativos — afirmou a representante da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), Júlia Obst.
O secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Fabiano Pereira, ressaltou que, para garantir direitos às crianças, é preciso criar soluções iguais. O objetivo de socorrer os menores, disse ele, parte da ideia de evolução do atendimento em período integral.
O juiz da 2ª Vara do Juizado da Infância e da Juventude da Capital, José Antônio Daltoé Cezar, cobrou mais investimentos em políticas públicas para corrigir o problema. Ele fez uma relação da influência de pais e mães envolvidos com o tráfico de drogas na personalidade dos filhos que fogem de casa:
— Muito da degradação desses meninos é consequência do crack. A maioria das mulheres que estão no (Presídio) Madre Pelletier estava envolvida com drogas.
Por sua vez, o subprocurador geral da Justiça para Assuntos Institucionais do Ministério Público, Marcelo Dornelles, defendeu a desburocratização do processo de auxílio ao menor. Conforme ele, após a identificação de uma criança na rua, a resposta dos órgãos públicos deve ser imediata.
O sociólogo e professor da UFRGS, Ivaldo Gehlen, apresentou dados de que a população de rua porto-alegrense tem diminuído nos últimos anos. Porém, o número de crianças nas ruas teria aumentado. Para ele, a mudança efetiva passa por uma troca de postura da sociedade.
— Essas crianças que pedem dinheiro na sinaleira são vistas com preconceito, como se não fizessem parte do nosso cotidiano. As pessoas têm medo e se colocam em um nível de distanciamento. Dar esmola é uma postura degradante — observou.
Para o psicólogo do Centro de Estudos Psicológicos sobre Meninos e Meninas de Rua da UFRGS, Lucas Neiva, a primeira fase do processo de retirada dos pequenos das ruas é orientar a família. Depois disso, preparar os responsáveis para o acolhimento do filho caso passe por algum processo de desintoxicação.
— Nem todos os casos são semelhantes ao do Felipe (nome fictício dado à criança da reportagem de ZH). Nem todas as crianças que estão nas ruas romperam o vínculo familiar. Mas tenho medo da próxima manchete — alerta.
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