sábado, 21 de julho de 2012

“Soberana é a urna, não a pesquisa", afirma diretor do Datafolha

Diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino explica como são feitos os levantamentos do instituto


Formado em Ciências Sociais pela USP, Mauro Paulino, 51 anos, entrou no Datafolha em 1985, como pesquisador de rua. Depois de passar por praticamente todos os setores do instituto, tornou-se diretor-geral, cargo que ocupa desde 1998. Considerado um dos maiores especialistas no assunto no Brasil, Paulino classifica a pesquisa eleitoral como "um retrato do momento em que foi feita". E nada além disso.
— O resultado não pode ser projetado para o futuro, mesmo que esse futuro seja o dia seguinte, e esse é um erro muito comum. Soberana é a urna, não a pesquisa — resume Paulino.
A seguir, confira os principais trechos da entrevista, concedida por telefone, na última terça-feira.
juliana.bublitz@zerohora.com.br
Zero Hora — Qual é a metodologia utilizada pelo Datafolha nas pesquisas eleitorais?
Mauro Paulino - O princípio metodológico básico é garantir que o universo de eleitores seja representado na amostra, na mesma proporção em que ele existe de fato. Por exemplo, se no universo existem 52% de mulheres e 48% de homens, essa proporção precisa ser respeitada na pesquisa. Esse é o segredo.
ZH — Significa que os entrevistados representam a totalidade dos eleitores?
Paulino — Cada entrevistado representa centenas de outros com as mesmas características. No caso de Porto Alegre, por exemplo, a gente tem um percentual de entrevistados para cada um dos segmentos socioeconômicos da população. É um enorme quebra-cabeças, cheio de detalhes. São muitas pessoas envolvidas, várias etapas e cada uma é importante no conjunto.
ZH — O que é margem de erro e nível de confiança?
Paulino - São limites técnicos. Se faz pesquisa porque não dá para ouvir todos os eleitores a todo momento, mas isso tem implicações. Os números divulgados são sempre uma aproximação. Não são exatos. É por isso que se estabelece margem de erro, cujo percentual varia. Quanto ao nível de confiança, é de 95%. Se a gente fizer cem pesquisas num mesmo dia, em 95 delas os resultados devem ficar dentro da margem de erro.
ZH — Há um padrão para a margem de erro?
Paulino — A margem de erro é uma relação entre o tamanho do universo e o número de entrevistas. Em geral, costuma ser de três pontos percentuais, mas isso pode variar.
ZH — Há outros limites?
Paulino — Existem os limites de interpretação dos resultados. É fundamental levar em conta que a pesquisa representa a opinião das pessoas no momento em que foi feita. Não pode ser projetada para o futuro, mesmo que esse futuro seja o dia seguinte, e esse é um erro muito comum. Temos vários exemplos de eleições cujo resultado se modificou de um dia para o outro. Soberana é a urna, não a pesquisa.
ZH — Pesquisa influencia o voto?
Paulino — Pode influenciar, porque faz parte do arsenal que ajuda o eleitor a se decidir. Mas pior seria não ter essa informação. Ela contribui para decisões pensadas.
ZH — O Datafolha realiza pesquisa para candidatos e partidos?
Paulino - Não, até pela importância que damos à isenção e à independência. Isso não quer dizer que quem faz está errado.
ZH — Por que o Datafolha não apresenta aos entrevistados o candidato junto com o partido?
Paulino - Porque isso pode induzir o entrevistado. E abre uma outra discussão. Se você se permite informar o partido, por que não dá outras informações? O limite entre informação e indução é tênue.
ZH — Por que o Datafolha não incluiu questões sobre o segundo turno nessa primeira pesquisa eleitoral?
Paulino - Justamente por ser a primeira pesquisa. Seria impossível fazer simulações de segundo turno com todos os candidatos uns contra os outros, porque daria uma número de cenários muito grande. Tecnicamente é impossível aplicar. Então, o que os institutos fazem são simulações de segundo turno com os candidatos mais bem colocados na pesquisa. Como essa é a primeira pesquisa do Datafolha, não se sabia quem eram os mais bem colocados até que ela fosse concluída.

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