Proprietários tentam vender casas a preços exorbitantes no bairro Humaitá
Moradias pobres estão cotadas em até R$ 400 mil por seus proprietários, um valor que mesmo as imobiliárias acham demasiado.
Das dezenas de casas situadas em frente à entrada para a Arena, a maioria é simples e muitas estão à venda. Aparentemente contidos e desconfiados, os moradores lamentam o barulho e repetem que querem deixar o bairro. O preço das residências, porém, escancara o motivo por trás da venda: fazer dinheiro com algum gremista fanático por morar em frente à nova casa do seu time.
Moradias pobres estão cotadas em até R$ 400 mil por seus proprietários, um valor que mesmo as imobiliárias acham demasiado. Como comparação, as empresas citam habitações em condomínios fechados da vizinhança. Ainda que sejam construções de melhor qualidade, com segurança particular e infraestrutura completa, custam cerca de R$ 250 mil.
— Não vão vender — sentencia um corretor, sobre seu próprio cliente.
Especialista alerta para impacto social
A expansão dos negócios no Humaitá guarda um lado nocivo, o da segregação da população de baixa renda. Essa é uma das análises constantes no trabalho de mestrado da tecnóloga em meio ambiente e mestre em Geografia Danielle Paula Martins. Professora do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental da Feevale, ela se dedicou a estudar a questão no bairro antes da chegada da Arena, e constatou que a região já era alvo da especulação imobiliária, atraída pelos seus amplos espaços exploráveis. O modelo escolhido para ocupar os novos terrenos é motivo de críticas da pesquisadora.
— Esse modelo de condomínios fechados não é nem um pouco saudável para a cidade. Ele separa as pessoas do espaço público. Além disso, dá uma falsa ideia de segurança. É um modelo em expansão em todo o Brasil e que em países como Estados Unidos e Argentina não tem mais investimento — afirma.
Em conversas com frequentadores do Parque Mascarenhas de Moraes, Danielle percebeu referências à remoção das diversas vilas que existem no bairro, refletindo uma aceitação dos moradores regulares pela retirada dos irregulares. É essa a intenção da prefeitura. As vilas irregulares deverão ser removidas, mesmo, de acordo com o secretário municipal de Gestão e Acompanhamento Estratégico, Urbano Schmitt. A garantia é de que os moradores dessas vilas ao menos permanecerão no Humaitá, ainda que não se saiba em qual ponto do bairro.
Segurança deveria ser ampliada, diz sargento da BM
A previsão é de que o Humaitá receba 30 mil novos habitantes com o advento da Arena. Dotado de um posto da Brigada Militar (BM), o bairro verá o número de ocorrências subir, de acordo com o sargento Luís Henrique Oliveira de Abreu.
— Onde tem movimento de pessoas, tem ocorrência — confirma o policial.
Sem efetivo suficiente para atender à demanda que virá, o posto precisaria sofrer uma ampliação, sugere Abreu. Uma solução seria criar um batalhão na área, segundo o sargento. Ele confia que o reforço ocorrerá.
— Não é só por causa da Arena. Aqui atrás do posto vai ter prédios de 10 andares. Imagina o que vai ser isso — salienta o PM.
Esporte é vocação do Humaitá
A chegada da Arena do Grêmio não inaugura uma fase desportista no Humaitá. Desde sua criação, em 1988, o bairro acumula um histórico de prática de esportes, centrado no Parque Mascarenhas de Moraes. O parque foi inaugurado seis anos antes de o bairro ser delimitado. Construído sobre um antigo aterro sanitário, se tornou o ponto central da região, tanto que passou a ser chamado de Parque Humaitá — o primeiro grande parque da Zona Norte.
O começo da ocupação do Humaitá ocorreu devido a uma necessidade habitacional de Porto Alegre. Na década de 60, surgiram muitos problemas decorrentes do crescimento populacional, tornando-se necessário ampliar o espaço residencial.
A ocupação inicial foi de operários que trabalhavam nas indústrias da região. Na década de 90, os primeiros condomínios fechados foram erguidos por construtoras de olho no potencial de expansão da classe média.
Enquanto isso, a vocação esportiva da área se desenvolveu. Em 1984, foi realizado o 1º Torneio de Integração de Voleibol do bairro Humaitá. Menos de 10 anos depois, já havia escolinhas esportivas na região e, mais tarde, o bairro passou a receber um passeio ciclístico.
A história esportiva do Humaitá foi estudada por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O resultado da pesquisa foi publicado em 2009 pela Gênese Editora, com o título Políticas de Lazer e Saúde em Espaços Urbanos. Para a professora da Escola de Educação Física e da pós-graduação da UFRGS Janice Zarpellon Mazo, integrante do grupo que fez a pesquisa, o parque se tornou um "lugar de memória" do bairro:
— As pessoas que viviam lá viam aquele aterro sanitário e, de repente, aquilo se transformou em um parque. Isso dá um outro sentido à vida das pessoas, muda a autoestima. Tem bairros que são identificados como sendo de gente pobre, como tendo muita violência. Eu acredito que o parque mudou um pouco isso e, provavelmente, a Arena do Grêmio fará uma transformação ainda superior. Não é só valorização imobiliária. As pessoas se sentem prestigiadas.
Moradias pobres estão cotadas em até R$ 400 mil por seus proprietários, um valor que mesmo as imobiliárias acham demasiado. Como comparação, as empresas citam habitações em condomínios fechados da vizinhança. Ainda que sejam construções de melhor qualidade, com segurança particular e infraestrutura completa, custam cerca de R$ 250 mil.
— Não vão vender — sentencia um corretor, sobre seu próprio cliente.
Especialista alerta para impacto social
A expansão dos negócios no Humaitá guarda um lado nocivo, o da segregação da população de baixa renda. Essa é uma das análises constantes no trabalho de mestrado da tecnóloga em meio ambiente e mestre em Geografia Danielle Paula Martins. Professora do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental da Feevale, ela se dedicou a estudar a questão no bairro antes da chegada da Arena, e constatou que a região já era alvo da especulação imobiliária, atraída pelos seus amplos espaços exploráveis. O modelo escolhido para ocupar os novos terrenos é motivo de críticas da pesquisadora.
— Esse modelo de condomínios fechados não é nem um pouco saudável para a cidade. Ele separa as pessoas do espaço público. Além disso, dá uma falsa ideia de segurança. É um modelo em expansão em todo o Brasil e que em países como Estados Unidos e Argentina não tem mais investimento — afirma.
Em conversas com frequentadores do Parque Mascarenhas de Moraes, Danielle percebeu referências à remoção das diversas vilas que existem no bairro, refletindo uma aceitação dos moradores regulares pela retirada dos irregulares. É essa a intenção da prefeitura. As vilas irregulares deverão ser removidas, mesmo, de acordo com o secretário municipal de Gestão e Acompanhamento Estratégico, Urbano Schmitt. A garantia é de que os moradores dessas vilas ao menos permanecerão no Humaitá, ainda que não se saiba em qual ponto do bairro.
Segurança deveria ser ampliada, diz sargento da BM
A previsão é de que o Humaitá receba 30 mil novos habitantes com o advento da Arena. Dotado de um posto da Brigada Militar (BM), o bairro verá o número de ocorrências subir, de acordo com o sargento Luís Henrique Oliveira de Abreu.
— Onde tem movimento de pessoas, tem ocorrência — confirma o policial.
Sem efetivo suficiente para atender à demanda que virá, o posto precisaria sofrer uma ampliação, sugere Abreu. Uma solução seria criar um batalhão na área, segundo o sargento. Ele confia que o reforço ocorrerá.
— Não é só por causa da Arena. Aqui atrás do posto vai ter prédios de 10 andares. Imagina o que vai ser isso — salienta o PM.
Esporte é vocação do Humaitá
A chegada da Arena do Grêmio não inaugura uma fase desportista no Humaitá. Desde sua criação, em 1988, o bairro acumula um histórico de prática de esportes, centrado no Parque Mascarenhas de Moraes. O parque foi inaugurado seis anos antes de o bairro ser delimitado. Construído sobre um antigo aterro sanitário, se tornou o ponto central da região, tanto que passou a ser chamado de Parque Humaitá — o primeiro grande parque da Zona Norte.
O começo da ocupação do Humaitá ocorreu devido a uma necessidade habitacional de Porto Alegre. Na década de 60, surgiram muitos problemas decorrentes do crescimento populacional, tornando-se necessário ampliar o espaço residencial.
A ocupação inicial foi de operários que trabalhavam nas indústrias da região. Na década de 90, os primeiros condomínios fechados foram erguidos por construtoras de olho no potencial de expansão da classe média.
Enquanto isso, a vocação esportiva da área se desenvolveu. Em 1984, foi realizado o 1º Torneio de Integração de Voleibol do bairro Humaitá. Menos de 10 anos depois, já havia escolinhas esportivas na região e, mais tarde, o bairro passou a receber um passeio ciclístico.
A história esportiva do Humaitá foi estudada por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O resultado da pesquisa foi publicado em 2009 pela Gênese Editora, com o título Políticas de Lazer e Saúde em Espaços Urbanos. Para a professora da Escola de Educação Física e da pós-graduação da UFRGS Janice Zarpellon Mazo, integrante do grupo que fez a pesquisa, o parque se tornou um "lugar de memória" do bairro:
— As pessoas que viviam lá viam aquele aterro sanitário e, de repente, aquilo se transformou em um parque. Isso dá um outro sentido à vida das pessoas, muda a autoestima. Tem bairros que são identificados como sendo de gente pobre, como tendo muita violência. Eu acredito que o parque mudou um pouco isso e, provavelmente, a Arena do Grêmio fará uma transformação ainda superior. Não é só valorização imobiliária. As pessoas se sentem prestigiadas.
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