De marolinha, Lula vira tempestade
Ex-presidente voltou ao cenário político com polêmicas, discursos e participação na TV
Em seu retorno à linha de frente do PT, Lula participou do Programa do Ratinho, no SBT
Luiz Antônio Araujo, Enviado Especial/São Bernardo do Campo
É do ex-governador de Minas Gerais Magalhães Pinto (1909—1996) uma das frases mais citadas no Brasil por quem deseja enfatizar as mudanças súbitas na vida política. "Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou", ensinava a velha raposa mineira. Nos últimos dias, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a prova viva de que a Lei de Magalhães Pinto está em pleno vigor: nesse período, ele passou de marolinha a tempestade.
No dia 21 de maio, ao ser declarado cidadão paulistano na primeira homenagem pública desde que os médicos o declararam curado de um tumor maligno na laringe, Lula se dedicou a distribuir afagos entre aliados e foi quase modesto para quem já se comparou a Jesus Cristo e Getúlio Vargas:
— Garanto a vocês que não terão motivos para se envergonhar deste cidadão paulistano que acaba de nascer.
Dez dias depois, no Programa do Ratinho, do SBT, Lula fez campanha aberta para o candidato do PT a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que tivera presença apagada na solenidade anterior. Também admitiu, pela primeira vez, que pode ser candidato à Presidência em 2014:
— Tenho dito que a única hipótese de eu voltar a ser candidato a presidente é se ela (Dilma Rousseff) não quiser. Eu não vou permitir que um tucano volte à Presidência do Brasil. Vou batalhar.
Se o ex-presidente tem dito isso, é em caráter privado. Em entrevista ao repórter Nicholas Lemann, da revista americana The New Yorker, publicada em novembro de 2011, ele havia desconversado sobre uma possível candidatura e afirmado: "Só há uma forma de ela (Dilma) não concorrer à reeleição: se ela não quiser". Em março, disse ao jornal Folha de S.Paulo: "Eu digo sempre o seguinte: a Dilma só não será candidata à reeleição se ela não quiser". Agora, Lula avança uma casa e garante que, se Dilma não quiser, ele pode querer.
A entrevista a Ratinho estava programada para acontecer um dia depois da homenagem na Câmara Municipal de São Paulo. A cerimônia, que durou cerca de três horas, fatigou o ex-presidente, que pediu o adiamento da entrevista. Ele chegou a manifestar ao amigo Luiz Marinho (PT), prefeito de São Bernardo e candidato à reeleição, a intenção de limitar a agenda pública a um turno, o da tarde.
— Ele começou a agenda (no dia 21) às 10h e terminou às 22h. No estado dele, não dá para trabalhar 12 horas por dia. Chega a ser uma irresponsabilidade dele e dos assessores — disse Marinho a Zero Hora.
O que ocorreu entre os dias 21 e 31 de maio a ponto de explicar uma mudança tão grande na inflexão de Lula? A resposta é simples: a publicação, pela revista Veja, de uma reportagem sobre um controverso encontro entre ele, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, no qual o ex-presidente teria pressionado, na versão de Mendes, pelo adiamento do julgamento do mensalão. O episódio, ocorrido no dia 26 de abril, levou a oposição a reabrir as baterias contra Lula, e o PT e seus aliados, a contra-atacar, a ponto de o presidente nacional do partido, Rui Falcão, gravar um vídeo disponível na internet com um chamado aos militantes para defenderem o ex-presidente.
Lula se recolheu, e o instituto que preside emitiu nota negando o relato do ministro do Supremo. Na quarta-feira já estava de volta aos microfones. Convidado do 5º Fórum Ministerial de Desenvolvimento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em Brasília, falou por mais de uma hora, como fizera em São Paulo. Os médicos haviam lhe recomendado que não discursasse por mais de 15 minutos.
Para um paciente em período de recuperação, Lula exibe um ritmo frenético. No site de seu instituto, ele aparece nos últimos dias em encontros com os irmãos Jorge e Tião Viana, comandantes do PT no Acre, e com Pelé. Sua assessoria de imprensa, comandada pela jornalista Maria Inês Nassif, acumula mais de uma centena de pedidos de entrevista.
Os maiores beneficiados são os candidatos do PT nas eleições municipais de outubro, ansiosos por receber no palanque o ex-presidente melhor avaliado da história brasileira. Haddad, com modestos 3% de intenções de voto em pesquisa Datafolha divulgada em março, já foi beneficiado: na próxima semana, em reunião com Lula e o governador de Pernambuco (PSB), Eduardo Campos, será ungido candidato da cúpula nacional dos socialistas, contra a vontade do diretório municipal.
De volta aos gramados, Lula confere velocidade ao campeonato eleitoral, ainda que a oposição o acuse de desconhecer as regras do jogo. Nada disso, porém, é garantia de que seja capaz de repetir em nível municipal o fenômeno de 2010, quando foi decisivo na eleição de Dilma
— A diferença entre Lula e a maior parte dos políticos é que ele raramente tem papas na língua. Ele fala o que passa pela cabeça, como parece ter acontecido no encontro com Mendes. Não há planejamento — afirma Marcos Coimbra, sociólogo e diretor do instituto de pesquisas Vox Populi.
O repórter Luiz Araujo preparou um vídeo sobre a vida de Lula em São Bernardo do Campo. Assista:
No dia 21 de maio, ao ser declarado cidadão paulistano na primeira homenagem pública desde que os médicos o declararam curado de um tumor maligno na laringe, Lula se dedicou a distribuir afagos entre aliados e foi quase modesto para quem já se comparou a Jesus Cristo e Getúlio Vargas:
— Garanto a vocês que não terão motivos para se envergonhar deste cidadão paulistano que acaba de nascer.
Dez dias depois, no Programa do Ratinho, do SBT, Lula fez campanha aberta para o candidato do PT a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que tivera presença apagada na solenidade anterior. Também admitiu, pela primeira vez, que pode ser candidato à Presidência em 2014:
— Tenho dito que a única hipótese de eu voltar a ser candidato a presidente é se ela (Dilma Rousseff) não quiser. Eu não vou permitir que um tucano volte à Presidência do Brasil. Vou batalhar.
Se o ex-presidente tem dito isso, é em caráter privado. Em entrevista ao repórter Nicholas Lemann, da revista americana The New Yorker, publicada em novembro de 2011, ele havia desconversado sobre uma possível candidatura e afirmado: "Só há uma forma de ela (Dilma) não concorrer à reeleição: se ela não quiser". Em março, disse ao jornal Folha de S.Paulo: "Eu digo sempre o seguinte: a Dilma só não será candidata à reeleição se ela não quiser". Agora, Lula avança uma casa e garante que, se Dilma não quiser, ele pode querer.
A entrevista a Ratinho estava programada para acontecer um dia depois da homenagem na Câmara Municipal de São Paulo. A cerimônia, que durou cerca de três horas, fatigou o ex-presidente, que pediu o adiamento da entrevista. Ele chegou a manifestar ao amigo Luiz Marinho (PT), prefeito de São Bernardo e candidato à reeleição, a intenção de limitar a agenda pública a um turno, o da tarde.
— Ele começou a agenda (no dia 21) às 10h e terminou às 22h. No estado dele, não dá para trabalhar 12 horas por dia. Chega a ser uma irresponsabilidade dele e dos assessores — disse Marinho a Zero Hora.
O que ocorreu entre os dias 21 e 31 de maio a ponto de explicar uma mudança tão grande na inflexão de Lula? A resposta é simples: a publicação, pela revista Veja, de uma reportagem sobre um controverso encontro entre ele, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, no qual o ex-presidente teria pressionado, na versão de Mendes, pelo adiamento do julgamento do mensalão. O episódio, ocorrido no dia 26 de abril, levou a oposição a reabrir as baterias contra Lula, e o PT e seus aliados, a contra-atacar, a ponto de o presidente nacional do partido, Rui Falcão, gravar um vídeo disponível na internet com um chamado aos militantes para defenderem o ex-presidente.
Lula se recolheu, e o instituto que preside emitiu nota negando o relato do ministro do Supremo. Na quarta-feira já estava de volta aos microfones. Convidado do 5º Fórum Ministerial de Desenvolvimento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em Brasília, falou por mais de uma hora, como fizera em São Paulo. Os médicos haviam lhe recomendado que não discursasse por mais de 15 minutos.
Para um paciente em período de recuperação, Lula exibe um ritmo frenético. No site de seu instituto, ele aparece nos últimos dias em encontros com os irmãos Jorge e Tião Viana, comandantes do PT no Acre, e com Pelé. Sua assessoria de imprensa, comandada pela jornalista Maria Inês Nassif, acumula mais de uma centena de pedidos de entrevista.
Os maiores beneficiados são os candidatos do PT nas eleições municipais de outubro, ansiosos por receber no palanque o ex-presidente melhor avaliado da história brasileira. Haddad, com modestos 3% de intenções de voto em pesquisa Datafolha divulgada em março, já foi beneficiado: na próxima semana, em reunião com Lula e o governador de Pernambuco (PSB), Eduardo Campos, será ungido candidato da cúpula nacional dos socialistas, contra a vontade do diretório municipal.
De volta aos gramados, Lula confere velocidade ao campeonato eleitoral, ainda que a oposição o acuse de desconhecer as regras do jogo. Nada disso, porém, é garantia de que seja capaz de repetir em nível municipal o fenômeno de 2010, quando foi decisivo na eleição de Dilma
— A diferença entre Lula e a maior parte dos políticos é que ele raramente tem papas na língua. Ele fala o que passa pela cabeça, como parece ter acontecido no encontro com Mendes. Não há planejamento — afirma Marcos Coimbra, sociólogo e diretor do instituto de pesquisas Vox Populi.
O repórter Luiz Araujo preparou um vídeo sobre a vida de Lula em São Bernardo do Campo. Assista:
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