terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Burocracia ameaça início do ano letivo em escola danificada por temporal em São Jerônimo

Dois meses depois dos estragos, prédio da Escola Estadual Thomas Alva Edison se deteriora à espera de reforma

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Burocracia ameaça início do ano letivo em escola danificada por temporal em São Jerônimo Ronaldo Bernardi/Agência RBS
No prédio principal da escola, buracos abertos pelo granizo causam infiltraçõesFoto: Ronaldo Bernardi / Agência RBS
A cultura da lentidão, que se faz notar toda vez que as engrenagens da burocracia emperram o andamento de obras e serviços essenciais à população, ameaça atrasar o início do ano letivo para os cerca de 200 alunos de uma escola de São Jerônimo que teve a estrutura danificada por um temporal há exatos dois meses.

No dia 14 de dezembro, a Escola Estadual Thomas Alva Edison, assim como várias residências na Vila da CEEE, foi duramente afetada por uma tempestade de granizo. O prédio principal da escola, de dois pisos, teve o telhado completamente avariado pelas pedras de gelo. E um antigo pavilhão de madeira, parte da história do colégio que tinha acabado de completar 50 anos, foi comprometido e precisou ser demolido após avaliação de um engenheiro da 12ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), que visitou o local no dia seguinte, acompanhado pelo coordenador do órgão, Lugon José Levandowski.

 
Infiltrações alagam salas de aula do colégio
Foto: Ronaldo Bernardi
Dois meses depois, e a menos de duas semanas do início do ano letivo, nenhuma outra medida concreta foi tomada - e a situação na escola só se agravou. De acordo com a diretora da instituição, Maria de Fátima Pires Lopes, a 12ª CRE mandou lonas no dia seguinte ao temporal, mas a falta de condições de segurança impediu a instalação do material sobre as telhas, por isso a proteção foi colocada pelo lado de dentro, o que deixou o prédio sujeito a infiltrações a cada nova chuva. 

Com a demolição do prédio de madeira, onde funcionavam seis salas de aula, e a falta de reparos no telhado do prédio de alvenaria, toda a estrutura física da escola está exposta às intempéries. Segundo a vice-diretora, Denise Schreinert, as infiltrações já comprometeram a rede elétrica do prédio, estão danificando a laje que divide os dois andares e ameaçam inutilizar até os livros didáticos:

— Quando se entra na biblioteca, dá pra sentir um cheiro de mofo — conta Denise, salientando que lonas foram usadas para cobrir os livros, mas talvez a proteção seja insuficiente contra a chuva. 

A diretora Maria de Fátima acrescenta que as infiltrações também atingem a sala de computadores, a cozinha e a secretaria. E afirma que o início do ano letivo não está garantido: 

— Eu estou ligando todo dia para tentar resolver, mas não sei se vamos conseguir abrir no dia 27. Alguns pais já estão tirando seus filhos da escola.

Em vídeo, veja imagens da escola




Nos anos 1980, escola foi frequentada pela jornalista Patrícia Poeta
Mãe de Gabriel, 13 anos, que deve iniciar a sétima série neste ano, a professora da rede particular Magali Argenton, que também estudou na Thomas Alva Edison, afirma que vai manter o filho na escola mesmo que o ano letivo atrase. 

— Eu vou esperar. Eu sou professora, então posso levar a educação do meu filho nesse tempo. O que me preocupa são as outras crianças. Para elas, a escola era um porto seguro. Muitas iam para escola até para ter alimentação — diz.

Magali conta que, quando era aluna do colégio, nos anos 80, foi colega de turma da hoje jornalista e apresentadora do Jornal Nacional Patrícia Poeta, que estudou no Thomas Alva Edison antes de se mudar com a família para Porto Alegre.

 
Nos anos 80, escola Thomas Alva Edison era referência de qualidade
Foto: Magali Argenton, Arquivo Pessoal
— Quando eu estudei na Thomas Edison, era uma escola de referência na região. Muitos engenheiros, médicos, advogados saíram de lá. Hoje, a gente vê a escola ir ao chão por falta de cuidado — lamenta Magali.

Mãe atuante no dia a dia da escola, Magali diz que tem se envolvido na luta pela reforma da instituição e que testemunhou o jogo de empurra-empurra dos órgãos do governo: 

— Eu liguei para a Secretaria de Educação na semana retrasada. Me disseram que está tudo preso na Secretaria de Obras e que o ano letivo não começa enquanto a escola não estiver pronta — afirma.

Processo ainda tramita entre secretarias do governo
Niara Piccardi, da 12ª CRE, informa que o órgão cuidou do encaminhamento do pedido de reforma às secretarias de Educação e de Obras. Segundo Niara, após a visita da escola pelo coordenador e pelo engenheiro do órgão no dia seguinte ao temporal, o levantamento dos danos foi concluído e enviado à secretaria de Obras em cinco dias. 

— Fizemos o possível. Agora, não depende de nós — diz Niara, que salienta que a demora na tomada de providências se deve também ao fato de o temporal ter ocorrido no final do ano.

Procurada por ZH, a Secretaria de Obras informou que o processo (cujo número foi passado pela equipe diretiva da escola) está tramitando na Secretaria de Educação. A Secretaria de Educação, por meio de sua assessoria de imprensa, diz que precisa se inteirar do andamento do processo antes de emitir uma posição oficial.

 
Foto: Ronaldo Bernardi
Enquanto isso, a data marcada para o início do ano letivo na rede estadual se aproxima e a diretora Maria de Fátima se prepara para entrar na linha de frente do confronto entre a comunidade da Vila da CEEE e o poder público:

— Os pais vão exigir de mim a abertura da escola, eles não vão ligar para a Secretaria de Educação — afirma.

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