"Minha missão é incluir na classe média o agricultor familiar", diz Pepe Vargas
Futuro ministro do Desenvolvimento Agrário foi convidado para o cargo pela presidente Dilma Rousseff
Pepe Vargas disse que pretende ampliar os assentamentos, além das 35 mil famílias previstas pelo Incra
CAROLINA BAHIA e KELLY MATOS*
Pepe Vargas ainda não assumiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário, mas já conhece os principais gargalos da pasta. Convidado para o cargo pela presidente Dilma Rousseff na quarta-feira à noite, tem passado os últimos dias dividido entre a política e os meandros da agricultura familiar.
Ao mesmo tempo, já vem recebendo telefonemas de ministros marcando reuniões sobre temas pendentes, ligados à pasta. Natural de Nova Petrópolis, uma região de pequenas propriedades, Pepe conhece a dinâmica da atividade econômica.
Nesta entrevista a Zero Hora, discorre tranquilamente sobre temas polêmicos, como a revisão dos índices de produtividade, a proibição de adição de sabores ao tabaco e as relações com o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST).
Na ânsia de afastar os impasses ideológicos da pasta, faz questão de avisar: esse é um ministério da área econômica. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Zero Hora – A presidente Dilma fez alguma recomendação especial?
Pepe Vargas – A recomendação foi a seguinte: a minha missão é incluir na classe média o agricultor familiar. Ela ainda pediu um olhar cuidadoso à regularização fundiária, fundamentalmente no Norte, e a questão dos assentamentos.
ZH – O senhor prevê aumento de recursos no Plano Safra?
Pepe – No ano passado foram R$ 16 bilhões, agora vamos tentar aumentar o valor. Não só isso. Às vezes, tem de mexer nos instrumentos, ter alguma inovação.
ZH – Como será a sua relação com os movimentos sociais?
Pepe – Eu conheço alguns líderes, do Movimento Sem-Terra, da Contag, mas isso não quer dizer nada. Eles não vão deixar de levantar suas bandeiras. A presidente Dilma vai recebê-los em breve. Agora, eles não vão baixar a guarda. Não tenho ilusão quanto a isso. Vamos tentar dialogar com respeito e democracia.
ZH – Como o senhor pretende qualificar os assentamentos?
Pepe – Temos limites orçamentários, mas há espaço. Fortalecer o assentamento é fortalecer a agricultura familiar. Temos de fazer com que ocupe mais espaço na agenda econômica do país. Seja para a produção de alimentos para o mercado interno, seja, inclusive para exportar.
ZH – Isso será feito por meio da reforma agrária?
Pepe – É um instrumento. Reforma agrária é criar pequenos proprietários rurais. O assentado de hoje é o agricultor familiar de manhã.
ZH – O senhor pretende revisar os índices de produtividade?
Pepe – Mesmo sem, é possível fazer reforma agrária. A revisão dos índices terá de ser avaliada, de tempos em tempos. É uma discussão econômica, não uma questão ideológica. A reforma agrária não é uma bandeira revolucionária, socialista, ou coisa do gênero. É uma bandeira de distribuir propriedade, de democratizar o acesso à propriedade, de criar proprietários rurais. Para quê? Para produzir alimentos.
ZH – Mas o senhor pretende levar adiante essa revisão?
Pepe – Os índices estão completamente defasados. Agora, não vamos nos iludir. A revisão dos índices não vai trazer um estoque enorme de terras para fazer assentamento. Vai mudar um pouco. É evidente também que o campo se modernizou. Eu vou discutir isso com Ministério da Agricultura, dentro de um viés econômico. O MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) é um ministério da área econômica.
ZH – O senhor pretende ampliar os assentamentos?
Pepe – Se eu não me engano, a meta do Incra para este ano é de 35 mil famílias. Se houver orçamento para ampliar, vamos fazer. Mas tem de ter condições, negociar com área econômica, com o Ministério do Planejamento, com a Fazenda, para ver se é possível.
ZH – A Anvisa analisa a proibição da adição de sabores ao fumo. O senhor é médico e agora também ministro do MDA. Qual a sua opinião sobre essa restrição?
Pepe – Eu particularmente não sou contra que haja uma legislação restritiva. Já fui fumante. O primeiro cigarro que fumei foi um mentolado que nem existe mais. É evidente que aquele frescorzinho ameniza o gosto do cigarro. Mas sou contra qualquer política radical de dizer assim: “vamos acabar com a indústria do fumo”. Não é assim. Vai ter de dialogar, pensar, proteger o setor e os agricultores familiares. O ministério tem de dar apoio para o agricultor familiar que quer produzir fumo, e tem de dar apoio para aquele que quer converter a lavoura. Essa discussão dos aditivos não é do MDA, é do Ministério da Saúde.
ZH – O senhor vai conseguir tirar do papel os projetos de irrigação para combater os problemas com a estiagem?
Pepe – Existem alguns lugares do Estado e do Brasil em que a estiagem é previsível, é quase todos os anos. Deixou de ser algo excepcional. Precisaremos ter uma política permanente, passando pelo investimento forte em irrigação.
Ao mesmo tempo, já vem recebendo telefonemas de ministros marcando reuniões sobre temas pendentes, ligados à pasta. Natural de Nova Petrópolis, uma região de pequenas propriedades, Pepe conhece a dinâmica da atividade econômica.
Nesta entrevista a Zero Hora, discorre tranquilamente sobre temas polêmicos, como a revisão dos índices de produtividade, a proibição de adição de sabores ao tabaco e as relações com o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST).
Na ânsia de afastar os impasses ideológicos da pasta, faz questão de avisar: esse é um ministério da área econômica. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Zero Hora – A presidente Dilma fez alguma recomendação especial?
Pepe Vargas – A recomendação foi a seguinte: a minha missão é incluir na classe média o agricultor familiar. Ela ainda pediu um olhar cuidadoso à regularização fundiária, fundamentalmente no Norte, e a questão dos assentamentos.
ZH – O senhor prevê aumento de recursos no Plano Safra?
Pepe – No ano passado foram R$ 16 bilhões, agora vamos tentar aumentar o valor. Não só isso. Às vezes, tem de mexer nos instrumentos, ter alguma inovação.
ZH – Como será a sua relação com os movimentos sociais?
Pepe – Eu conheço alguns líderes, do Movimento Sem-Terra, da Contag, mas isso não quer dizer nada. Eles não vão deixar de levantar suas bandeiras. A presidente Dilma vai recebê-los em breve. Agora, eles não vão baixar a guarda. Não tenho ilusão quanto a isso. Vamos tentar dialogar com respeito e democracia.
ZH – Como o senhor pretende qualificar os assentamentos?
Pepe – Temos limites orçamentários, mas há espaço. Fortalecer o assentamento é fortalecer a agricultura familiar. Temos de fazer com que ocupe mais espaço na agenda econômica do país. Seja para a produção de alimentos para o mercado interno, seja, inclusive para exportar.
ZH – Isso será feito por meio da reforma agrária?
Pepe – É um instrumento. Reforma agrária é criar pequenos proprietários rurais. O assentado de hoje é o agricultor familiar de manhã.
ZH – O senhor pretende revisar os índices de produtividade?
Pepe – Mesmo sem, é possível fazer reforma agrária. A revisão dos índices terá de ser avaliada, de tempos em tempos. É uma discussão econômica, não uma questão ideológica. A reforma agrária não é uma bandeira revolucionária, socialista, ou coisa do gênero. É uma bandeira de distribuir propriedade, de democratizar o acesso à propriedade, de criar proprietários rurais. Para quê? Para produzir alimentos.
ZH – Mas o senhor pretende levar adiante essa revisão?
Pepe – Os índices estão completamente defasados. Agora, não vamos nos iludir. A revisão dos índices não vai trazer um estoque enorme de terras para fazer assentamento. Vai mudar um pouco. É evidente também que o campo se modernizou. Eu vou discutir isso com Ministério da Agricultura, dentro de um viés econômico. O MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) é um ministério da área econômica.
ZH – O senhor pretende ampliar os assentamentos?
Pepe – Se eu não me engano, a meta do Incra para este ano é de 35 mil famílias. Se houver orçamento para ampliar, vamos fazer. Mas tem de ter condições, negociar com área econômica, com o Ministério do Planejamento, com a Fazenda, para ver se é possível.
ZH – A Anvisa analisa a proibição da adição de sabores ao fumo. O senhor é médico e agora também ministro do MDA. Qual a sua opinião sobre essa restrição?
Pepe – Eu particularmente não sou contra que haja uma legislação restritiva. Já fui fumante. O primeiro cigarro que fumei foi um mentolado que nem existe mais. É evidente que aquele frescorzinho ameniza o gosto do cigarro. Mas sou contra qualquer política radical de dizer assim: “vamos acabar com a indústria do fumo”. Não é assim. Vai ter de dialogar, pensar, proteger o setor e os agricultores familiares. O ministério tem de dar apoio para o agricultor familiar que quer produzir fumo, e tem de dar apoio para aquele que quer converter a lavoura. Essa discussão dos aditivos não é do MDA, é do Ministério da Saúde.
ZH – O senhor vai conseguir tirar do papel os projetos de irrigação para combater os problemas com a estiagem?
Pepe – Existem alguns lugares do Estado e do Brasil em que a estiagem é previsível, é quase todos os anos. Deixou de ser algo excepcional. Precisaremos ter uma política permanente, passando pelo investimento forte em irrigação.
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