"Agi em legítima defesa", alega jovem que atropelou 17 pessoas em Quintão
Gilberto Luiz Pellizzer Júnior, 18 anos, contou à ZH que tentou fugir de pessoas que tentaram agredi-lo
Ainda assustado com o episódio, Pellizzer Júnior conversou com Zero Hora na tarde de quinta-feira, no escritório de seu advogado.
O delegado de Palmares do Sul, Peterson Benitez, formalizou à Justiça, no início da noite de quinta-feira, pedido de prisão preventiva do motorista Gilberto Luiz Pellizzer Júnior, 18 anos, que atropelou 17 pessoas na madrugada de terça-feira, em Quintão, no Litoral Norte.
A jovem Karolin Bárbaro, 19 anos, uma das vítimas, que havia sido medicada e liberada no Pronto Atendimento de Saúde de Quintão, precisou ser internada, às pressas, no Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre.
Gilberto falou a ZH na tarde de quinta-feira. Nervoso, conversou durante uma hora, acompanhando do pai, o caminhoneiro Gilberto Luiz Pellizzer, 45 anos, e do advogado André Marcelo Koeche, especialista em leis de trânsito. A seguir, trechos da entrevista:
Zero Hora — O que aconteceu?
Gilberto Luiz Pellizzer Júnior — Por volta das 23h30min, fui de carro para o Centro. Estacionei e liguei o som, estava acompanhado de amigos e parentes. Por volta das 2h, uma amiga me avisou que três caras estavam nos arredores do carro mostrando a arma na cintura. Sentimos que era um assalto, os meus amigos se afastaram e entrei no carro. Os homens armados se afastaram e se posicionaram na única rua livre. Resolvi sair na multidão.
ZH — Nessa rua acontecia o Carnaval. O trânsito estava impedido?
Pellizzer — Não havia cavalete, o Carnaval já tinha terminado, e só havia grupos de pessoas ouvindo o som dos carros. Entrei devagarinho e, quando notei que tinha muita gente, pensei em voltar. Mas olhei pelo retrovisor e vi que tinha um carro atrás. Então continuei. Segundos depois, um rapaz abriu o porta-malas e deu um pontapé no som. Veio outro rapaz e atirou uma garrafa em mim pela janela do carona. Um outro, loiro, quebrou o para-brisa com uma garrafa. A multidão gritava e batia no carro.
ZH — Em que velocidade andava?
Pellizzer — Estava em primeira marcha, creio que a uns 20 km/h. Acelerei na hora em que um deles tentou abrir a minha porta e me puxar para fora. Pensei: eles vão me matar. Pisei no acelerador para conseguir sair dali.
ZH — Não viu que atropelava as pessoas?
Pellizzer — Não, o para-brisa estava quebrado, e o medo de ser morto era grande. Eu agi em legítima defesa.
ZH — Testemunhas afirmam que havia um rapaz magro na carona, que teria realizado disparos?
Pellizzer — Estava sozinho no carro. Tanto que atiraram uma garrafa em mim pela janela do carona. Era meu plano ir para casa, deixar o carro e voltar de carona na moto de um amigo.
ZH — Ouviu os tiros?
Pellizzer — A confusão era grande. Não lembro de ter ouvido tiros, só os gritos da multidão contra mim. Creio que o episódio tenha durado uns 10 minutos, jamais vou esquecer.
ZH — Em quanto tempo a Brigada Militar apareceu em sua casa?
Pellizzer — Creio que minutos depois. Eles chegaram e nos colocaram contra a parede, procuravam arma. Falamos que não tínhamos. Fui algemado e colocado dentro da viatura.
ZH — Você se recusou a fazer o teste do bafômetro?
Pellizzer — O brigadiano me perguntou e respondi que não. Eu havia bebido uns goles de cerveja.
ZH — Quando soube do número de pessoas que havia atropelado?
Pellizzer — Na delegacia, ouvi o policial receber um telefonema informando que havia 17 pessoas feridas. Pensei: meu Deus, que tragédia... Eu lamento ter ferido essas pessoas. Não era a minha intenção.
ZH — A partir daí, como tem sido a sua vida?
Pellizzer — Até então, levantava às 6h para ajudar o meu pai no transporte de frete, ele me paga R$ 50 por dia pelo trabalho. Tudo mudou. Não consigo dormir e tenho medo de ser reconhecido na rua.
ZH — Todo o episódio se inicia com uma pessoa abrindo o porta-malas do carro. Você a reconheceu?
Pellizzer — Não. Mas sou capaz de reconhecer o alemão que quebrou o para-brisa com uma garrafa.
ZH — A polícia está investigando se o episódio pode ter começado devido a uma briga de gangues. Você pertence a alguma gangue?
Pellizzer — Não pertenço a nenhuma gangue e também não sei por que fui atacado.
ZH — No final do dia (quinta-feira), o delegado Peterson Benitez pediu sua prisão preventiva. Sabe o que isso significa?
Pellizzer — Sinto medo. Nunca estive preso.
O atropelamento
O atropelamento coletivo ocorreu próximo ao número 3.500 da Avenida Esparta, um ponto de encontro de jovens e adolescentes nas noites de Carnaval.
Em circunstâncias ainda investigadas pela polícia, Pelizzer avançou a sua caminhonete EcoSport contra uma multidão. Pela versão do jovem, ele teria se assustado e, temendo linchamento, tentou fugir, atropelando as pessoas. Ele diz ainda que estava sozinho no veículo e que nenhum tiro teria sido disparado de dentro da caminhonete.
Testemunhas, porém, disseram à Polícia Civil que Pelizzer teria se irritado com algumas pessoas, que lançavam espuma com spray no veículo, e acelerado contra a multidão.
Logo após o acidente, um delegado plantonista de Cidreira havia enquadrado a atitude do motorista como "lesão corporal culposa (sem intenção)".
Semelhança com atropelamento de ciclistas na Capital:
No dia 25 de fevereiro de 2011, o bancário Ricardo Neis atropelou um grupo de ciclistas no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. O incidente deixou 15 feridos. As vítimas integravam o movimento Massa Crítica, que defende o uso da bicicleta como meio de transporte.
Depois de preso, o motorista alegou que se sentiu ameaçado pelo ciclistas e acabou arrancando o veículo. O filho de Neis, que também estava no carro, alegou que os integrantes do movimento começaram a bater no carro.
Os ciclistas negaram as ameaças e agressões. O episódio foi amplamente divulgado em redes sociais e sites de vídeos na internet, com imagens do momento exato do atropelamento coletivo dos ciclistas. O episódio ganhou repercussão internacional.
Neis foi autuado por 17 tentativas de homicídio triplamente qualificadas. A promotora de Justiça Lúcia Helena Callegari, autora da denúncia, alegou que, ao acelerar seu automóvel contra as vítimas, Neis deu início ao ato de matar e causou lesões corporais comprovadas pelos boletins de atendimento médico. Ele chegou a ficar uma semana preso, mas responde ao processo em liberdade.
Em gráfico, veja como foi o atropelamento
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