sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Soja perdida em decorrência da estiagem vira alimento para o gado nas Missões


Produtores abandonam plantações atingidas pela seca porque custo da colheita não compensa


 

Soja perdida em decorrência da estiagem vira alimento para o gado nas Missões Roberto Witter/Agência RBS
Com perda total em 300 dos 6 mil hectares plantados, irmãos Vendruscolo destinaram grão ao gado

Em 300 hectares de terra, no limite entre os municípios de Joia e São Miguel das Missões, é o gado que se encarrega de consumir as poucas plantas improdutivas que sobraram no campo. Com chuva escassa e irregular, a família Vendruscolo faz parte da legião de produtores que abandonará a colheita de soja devido à baixa produtividade nas lavouras.

A pouca quantidade não paga os custos de colheita que, segundo a Emater, variam entre R$ 250 e R$ 300 por hectare — em safras normais, com produção acima de 40 sacas por hectare, o custo aproximado é de 10% da produção.

Nos 6 mil hectares dos irmãos Vendruscolo, até a área irrigada foi afetada. Barragens secaram e impediram a nutrição das plantas até o fim do ciclo. Na lavoura sequeira, os prejuízos foram ainda mais severos e apenas 20% da área será colhida.

— Tivemos 300 hectares onde a soja simplesmente não nasceu e a perda foi de 100%. Colocamos o gado para comer os brotos. Só não fizemos o mesmo no restante das lavouras porque têm seguro. Mas colocar gado seria a melhor solução. A venda do produto não cobre a despesa — explica Diomedes.

A situação é semelhante em uma das lavouras do produtor Cristiano Manjabosco, de Cruz Alta. Na área de 180 hectares, a produtividade média deve beirar cinco sacos por hectare.

— Ainda estamos analisando, mas acho que não vale gastar diesel na colheita. Jamais ocorreu algo semelhante, nem em 2005. Este ano, tivemos apenas uma chuva boa em novembro, outra no final de janeiro e uma terceira agora, no final de semana passada. A falta de chuva atingiu todo o ciclo da planta — recorda Manjabosco.

Os grãos que vingaram nas lavouras ainda enfrentam problemas em relação a peso e tamanho.

— Há muita disparidade nas lavouras do Noroeste, com grãos verdes e imaturos misturados a porções já prontas para colheita. Então, mesmo onde será possível colher a soja, o grão tem a qualidade comercial comprometida — explica Volnei Koche, classificador de grãos da Emater de Santa Rosa.

De acordo com a Emater, o custo da colheita, em anos de produção reduzida, gira entre R$ 250 e R$ 300.

Produtores que colhem cinco sacos por hectare hoje recebem, em média, R$ 220.

O valor não cobre os custos da colheita.

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