"Há dúzias de pessoas morrendo na Síria", diz pesquisador de emergências da ONG Human Rights Watch
Norueguês está sem poder entrar no país por conta da violenta repressão do regime de Al-Assad
Imagem mostra rebeldes reunidos nesta terça-feira em uma região montanhosa no noroeste da Síria Foto: Ricardo Garcia Vilanova / AFP
Sem poder entrar na Síria por conta da violenta repressão do regime de Al-Assad, o norueguês Ole Solvang, integrante da ONG Human Rights Watch em Paris, iniciará nesta quarta-feira mais uma incursão pela fronteira entre a Turquia e a Síria para mapear a situação dos refugiados e investigar o que está ocorrendo no país acossado por um conflito civil. Nesta terça-feira, a organização divulgou a coleta de 300 minas terrestres armadas ilegalmente pelo governo sírio na rota de fuga do país. Confira:
Zero Hora — Como vocês monitoram o que está ocorrendo na Síria?
Ole Solvang — É muito difícil e perigoso trabalhar dentro da Síria agora. Não temos ninguém da nossa equipe lá no momento, mas estamos nas fronteiras da Turquia, do Líbano e da Jordânia. A forma que temos para verificar informações é falando com refugiados e com desertores do exército. Fazemos entrevistas profundas com eles. Temos, também, uma rede ampla de contatos em cidades sírias porque acompanhamos a situação do país há muito tempo, muito antes do início dos protestos.
ZH — Como o senhor descreveria a situação na Síria hoje?
Solvang — A situação é terrível. Há dúzias de pessoas morrendo todos os dias. As pessoas são presas e torturadas, não há medicamentos nem médicos. Pessoas morrem pela falta de assistência médica. Os protestos começaram há um ano e não parece que a situação esteja melhorando. Pelo contrário, em fevereiro, houve um aumento nos ataques realizados pelo governo. Está se transformando cada vez mais em uma guerra civil em escala completa.
ZH — Vocês acompanham refugiados. Quem são eles?
Solvang — Todos os refugiados nos contam atrocidades, ataques violentos. Muitos dos que estão fugindo já foram presos e estão saindo porque não querem ser presos de novo. Muitos tiveram familiares presos ou mortos. Um grande problema é que está difícil para as pessoas saírem do país. E a informação que publicamos sobre as minas terrestres é parte disso. O governo sírio está tornando muito difícil para a população fugir. Eles também sitiam as cidades, como fizeram em Homs. Em fevereiro, o governo atacou Homs, mas mantendo a cidade cercada. Situação semelhante está ocorrendo agora em Idlib.
ZH — Como vocês descobriram o problema das minas?
Solvang — Nós não achamos as minas, mas entrevistamos pessoas que viram o exército sírio plantando as minas. E entrevistamos quem as removeu. Uma das pessoas que removeu as minas é um desertor do exército. Ele desativava minas para o exército e hoje está refugiado. Ele e outros auxiliares retiraram 300 minas e nos mostraram. Assim, pudemos identificá-las.
ZH — Quantas vítimas as minas já deixaram?
Solvang — Não temos um número completo. Falamos diretamente com três ou quatro, mas sabemos de muitas mais. Elas são armadas exatamente ao longo das rotas que os refugiados estão usando para escapar. O governo sírio provavelmente irá dizer que plantou as minas para deter o contrabando de armas ou para deter o Exército Sírio Livre, mas o problema é que, como em muitos outros conflitos, as minas matam uma maioria de civis porque os combatentes aprendem como evitá-las. Por isso as minas são proibidas pelas leis internacionais.
ZH — Qual é o panorama do problema das minas no mundo hoje?
Solvang — Um tratado para bani-las foi assinado em 1997, e a maioria dos países parou de usá-las. Há alguns que ainda usam. No ano passado e até o momento em 2012, registramos o uso pela Líbia, Israel, Mianmar e Síria. A Síria não assinou o tratado, mas por lei, não pode usar armas que não possam ser usadas com uma diferenciação entre combatentes e civis. Com as minas, isso não é possível.
ZH — É possível haver sanções?
Solvang — A legislação internacional não prevê regras de sanções automáticas para isso. O caso pode ser investigado se a Síria for levada ao Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra.
ZH — Há uma saída a curto prazo para este conflito?
Solvang — É muito difícil ver uma solução. Parece que o governo e a oposição estão tão determinados a lutar. Há pouco espaço para uma solução política, mas devemos tentar, por meio de pressão internacional.
Zero Hora — Como vocês monitoram o que está ocorrendo na Síria?
Ole Solvang — É muito difícil e perigoso trabalhar dentro da Síria agora. Não temos ninguém da nossa equipe lá no momento, mas estamos nas fronteiras da Turquia, do Líbano e da Jordânia. A forma que temos para verificar informações é falando com refugiados e com desertores do exército. Fazemos entrevistas profundas com eles. Temos, também, uma rede ampla de contatos em cidades sírias porque acompanhamos a situação do país há muito tempo, muito antes do início dos protestos.
ZH — Como o senhor descreveria a situação na Síria hoje?
Solvang — A situação é terrível. Há dúzias de pessoas morrendo todos os dias. As pessoas são presas e torturadas, não há medicamentos nem médicos. Pessoas morrem pela falta de assistência médica. Os protestos começaram há um ano e não parece que a situação esteja melhorando. Pelo contrário, em fevereiro, houve um aumento nos ataques realizados pelo governo. Está se transformando cada vez mais em uma guerra civil em escala completa.
ZH — Vocês acompanham refugiados. Quem são eles?
Solvang — Todos os refugiados nos contam atrocidades, ataques violentos. Muitos dos que estão fugindo já foram presos e estão saindo porque não querem ser presos de novo. Muitos tiveram familiares presos ou mortos. Um grande problema é que está difícil para as pessoas saírem do país. E a informação que publicamos sobre as minas terrestres é parte disso. O governo sírio está tornando muito difícil para a população fugir. Eles também sitiam as cidades, como fizeram em Homs. Em fevereiro, o governo atacou Homs, mas mantendo a cidade cercada. Situação semelhante está ocorrendo agora em Idlib.
ZH — Como vocês descobriram o problema das minas?
Solvang — Nós não achamos as minas, mas entrevistamos pessoas que viram o exército sírio plantando as minas. E entrevistamos quem as removeu. Uma das pessoas que removeu as minas é um desertor do exército. Ele desativava minas para o exército e hoje está refugiado. Ele e outros auxiliares retiraram 300 minas e nos mostraram. Assim, pudemos identificá-las.
ZH — Quantas vítimas as minas já deixaram?
Solvang — Não temos um número completo. Falamos diretamente com três ou quatro, mas sabemos de muitas mais. Elas são armadas exatamente ao longo das rotas que os refugiados estão usando para escapar. O governo sírio provavelmente irá dizer que plantou as minas para deter o contrabando de armas ou para deter o Exército Sírio Livre, mas o problema é que, como em muitos outros conflitos, as minas matam uma maioria de civis porque os combatentes aprendem como evitá-las. Por isso as minas são proibidas pelas leis internacionais.
ZH — Qual é o panorama do problema das minas no mundo hoje?
Solvang — Um tratado para bani-las foi assinado em 1997, e a maioria dos países parou de usá-las. Há alguns que ainda usam. No ano passado e até o momento em 2012, registramos o uso pela Líbia, Israel, Mianmar e Síria. A Síria não assinou o tratado, mas por lei, não pode usar armas que não possam ser usadas com uma diferenciação entre combatentes e civis. Com as minas, isso não é possível.
ZH — É possível haver sanções?
Solvang — A legislação internacional não prevê regras de sanções automáticas para isso. O caso pode ser investigado se a Síria for levada ao Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra.
ZH — Há uma saída a curto prazo para este conflito?
Solvang — É muito difícil ver uma solução. Parece que o governo e a oposição estão tão determinados a lutar. Há pouco espaço para uma solução política, mas devemos tentar, por meio de pressão internacional.
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