sexta-feira, 16 de março de 2012

Venda de fichas em postos de saúde indignam quem precisa de atendimento médico na Capital


Na UBS Vila Farrapos, um lugar na fila para marcação de consulta custa entre R$ 15 e R$ 25. "Flanelinha" pode ganhar um salário mínimo por mês


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Venda de fichas em postos de saúde indignam quem precisa de atendimento médico na Capital Carlos Macedo/Especial
O repórter Eduardo Rodrigues negociou um lugar na fila do SUS na UBS da Vila Farrapos

A demora na implantação do sistema de informatização dos serviços de saúde da Capital, que se arrasta há pelo menos oito anos, facilita a ação do atravessador. Neste período, o Diário Gaúcho flagrou a venda ilegal de lugar na fila por uma consulta médica em vários postos. Esta semana, a reportagem comprovou novamente a ação dos "flanelinhas.
Na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Farrapos, o esquema é comandado por duas mulheres e um homem.
Pode ganhar até R$ 600 por mês
O atendimento pelo Sus é gratuito, mas para conseguir agendamento com médicos algumas pessoas estão pagando R$ 15, R$ 20 e até R$ 25 para Gislaine, Elisia ou para um homem que se identifica como José, respectivamente. Se José ficar de segunda a sexta-feira, em um mês poderá ganhar R$ 600.
Para não passar madrugadas ao relento, usuários cadastrados na unidade recorrem aos guardadores, que só agem porque o número de consultas é limitado. Em média, são 12 por dia por médico.
Esquema foi confirmado
A reportagem confirmou a ação do trio entre a noite de segunda-feira e a madrugada de terça. Por volta das 21h de segunda, Gislaine, que organiza a ordem da fila, Elisia e José marcavam lugares para outras pessoas. Na terça, antes da abertura do posto, às 7h, o trio passou o lugar para os verdadeiros pacientes e foi embora. Um morador, que prefere não se identificar, afirma que eles agem todos os dias.
- Usam cadeiras vazias para marcar lugar para outras pessoas e poder ganhar mais. Quando os usuários chegam e descobrem, ficam indignados - disse o morador.
"R$ 20", disse Elisia
Na terça-feira, ligamos para acertar o esquema com Elísia. Em menos de dois minutos, o negócio estava fechado.
Diário Gaúcho - Elísia?
Elísia - Quem fala, por gentileza?
Diário Gaúcho - É o Eduardo, falei contigo ontem e perguntei se tu poderia ficar pra mim na fila do posto. Tu pode?
Elísia - Olha, eu não tenho certeza. Me liga mais tarde.
Diário Gaúcho - Pode ser para Clínico?
Elísia - Pode
Diário Gaúcho - Quanto?
Elisia - Te falei ontem à noite. R$ 20.
INFORMATIZAÇÃO ESTÁ PROMETIDA DESDE 2004
Em dezembro do ano passado, a Secretaria da Saúde fez novamente uma promessa que se repete desde 2004, como mostra a reprodução da capa do Diário Oficial de Porto Alegre daquele ano. Durante o evento realizado no Hotel Sheraton, o prefeito José Fortunati anunciou o Projeto de Modernização e Informatização da Saúde para agilizar o acesso às consultas.
Mas, por enquanto, somente o atendimento com especialista é agendado. O serviço de atenção primária, que envolve as unidades e a Estratégia de Saúde da Família, será conectado ao sistema até dezembro, prazo final para informatização.
MP investiga falta de médicos na UBS
No começo do mês, o Ministério Público do Estado abriu um inquérito civil público para investigar denúncia sobre o número limitado de médicos na UBS da Vila Farrapos. A falta de profissionais à disposição da população é um dos motivos que levam à disputa por consultas. A promotora de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos, Marinês Assmann, aguarda informações da prefeitura. A venda de lugares na fila é investigada pelo MP há 14 anos. O primeiro expediente foi aberto em 1998 para apurar denúncia de comércio ilegal de acesso à consultas no fila no posto de saúde da Vila dos Comerciários (hoje Centro de Saúde).
Secretário não sabia
O secretário municipal da Saúde de Porto Alegre, Carlos Casartelli, disse que ficou sabendo da "mordida" nos usuários pela reportagem do Diário Gaúcho. Ele garantiu que a primeira medida seria mudar o horário de marcação de consultas na UBS.
- "Serão denunciadas"
O agendamento, que é feito pela manhã, passaria para a tarde. Mas até ontem não havia mudado, conforme consulta feita por telefone à unidade.
- Se estas pessoas continuarem agindo, serão denunciadas à Polícia - disse.

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