Argentinos se mobilizam para defender o dólar
Em pouco mais de uma semana, entre 31 de maio e a última sexta-feira, houve três protestos nas ruas da capital argentina, puxados por uma classe média alta insatisfeita
Em frente à Casa Rosada, na Praça de Maio, manifestante se veste com falsas cédulas de dólar e toca tambor para criticar o governo Foto: DANIEL GARCIA / AFP
Hordas de argentinos percorrem as ruas planas de Buenos Aires para, na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada (sede do governo), fazerem soar golpes indignados em panelas vazias.
A frase acima faz lembrar os "panelaços" ocorridos durante a crise que levou ao corralito (bloqueios a saques bancários) no fim de 2001. Mas há diferenças: o episódio é dos últimos dias, e as tais hordas partem de bairros opulentos, liderados pela classe média, e tem como um dos motivos não as restrições ao peso argentino, mas ao dólar americano.
Os primeiros dos atuais panelaços ocorreram no meio da semana passada e se restringiram a bairros do norte rico de Buenos Aires, como a Recoleta e Belgrano, sempre organizados via redes sociais. Na noite da última quinta-feira, com pessoas revestidas pela moeda verde americana, os líderes dos protestos parecem ter ganho adesão popular e chegado às franjas do poder. Foram pelo menos 2 mil pessoas em frente à Casa Rosada, no centro da cidade, e 300 na residência oficial de Olivos.
Os manifestantes enfrentaram temperaturas próximas de 0ºC e parecem ter recebido um combustível especial: na quarta-feira, a presidente Cristina Kirchner anunciou que trocará todos os seus US$ 3 milhões (declarados oficialmente) por pesos. A medida seria um exemplo daquilo que ela define como uma tentativa de mudar a "cultura dolarizada" dos argentinos. O resultado é que aumentaram as críticas à suposta demagogia. Na semana passada, o senador kirchnerista Aníbal Fernández disse que não venderia seus dólares por patriotismo, o que causou forte repercussão na classe média que tem engrossado seus protestos nas ruas.
- Temos, sim, uma cultura do dólar na Argentina. Nas últimas décadas, nos acostumamos a guardar o dinheiro nessa moeda. A relação do argentino com o peso é de trauma e insegurança. Com o dólar, é de carinho e proteção. Para isso ser modificado, são necessários um governo e uma moeda estáveis e, mais que isso, a passagem do tempo - analisa o psicólogo argentino Marcelo Hernández.
Há meio ano, o governo argentino tem baixado normas que restringem a compra do dólar, numa tentativa de conter a fuga de capitais do país, que alcançou US$ 20 bilhões no ano passado. Têm sido exigidas declarações de renda e justificativas para a compra.
Para governo, ato é elitista
De acordo com dados do governo, a Argentina é o segundo país que mais usa o dólar em sua economia. Perde apenas para os EUA.
- Parece que só agora o governo descobriu que o argentino pensa em dólar. Tem alguma razão: parte da população está desesperada para conseguir dólares, mas o pior é que o mais desesperado é o próprio governo - ironiza o analista político Fernando Laborda.
O governo tem evitado comentar os protestos. As poucas opiniões saídas da Casa Rosada definem o movimento como elitista.
A frase acima faz lembrar os "panelaços" ocorridos durante a crise que levou ao corralito (bloqueios a saques bancários) no fim de 2001. Mas há diferenças: o episódio é dos últimos dias, e as tais hordas partem de bairros opulentos, liderados pela classe média, e tem como um dos motivos não as restrições ao peso argentino, mas ao dólar americano.
Os primeiros dos atuais panelaços ocorreram no meio da semana passada e se restringiram a bairros do norte rico de Buenos Aires, como a Recoleta e Belgrano, sempre organizados via redes sociais. Na noite da última quinta-feira, com pessoas revestidas pela moeda verde americana, os líderes dos protestos parecem ter ganho adesão popular e chegado às franjas do poder. Foram pelo menos 2 mil pessoas em frente à Casa Rosada, no centro da cidade, e 300 na residência oficial de Olivos.
Os manifestantes enfrentaram temperaturas próximas de 0ºC e parecem ter recebido um combustível especial: na quarta-feira, a presidente Cristina Kirchner anunciou que trocará todos os seus US$ 3 milhões (declarados oficialmente) por pesos. A medida seria um exemplo daquilo que ela define como uma tentativa de mudar a "cultura dolarizada" dos argentinos. O resultado é que aumentaram as críticas à suposta demagogia. Na semana passada, o senador kirchnerista Aníbal Fernández disse que não venderia seus dólares por patriotismo, o que causou forte repercussão na classe média que tem engrossado seus protestos nas ruas.
- Temos, sim, uma cultura do dólar na Argentina. Nas últimas décadas, nos acostumamos a guardar o dinheiro nessa moeda. A relação do argentino com o peso é de trauma e insegurança. Com o dólar, é de carinho e proteção. Para isso ser modificado, são necessários um governo e uma moeda estáveis e, mais que isso, a passagem do tempo - analisa o psicólogo argentino Marcelo Hernández.
Há meio ano, o governo argentino tem baixado normas que restringem a compra do dólar, numa tentativa de conter a fuga de capitais do país, que alcançou US$ 20 bilhões no ano passado. Têm sido exigidas declarações de renda e justificativas para a compra.
Para governo, ato é elitista
De acordo com dados do governo, a Argentina é o segundo país que mais usa o dólar em sua economia. Perde apenas para os EUA.
- Parece que só agora o governo descobriu que o argentino pensa em dólar. Tem alguma razão: parte da população está desesperada para conseguir dólares, mas o pior é que o mais desesperado é o próprio governo - ironiza o analista político Fernando Laborda.
O governo tem evitado comentar os protestos. As poucas opiniões saídas da Casa Rosada definem o movimento como elitista.
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