Municípios vizinhos cultivam relação histórica de rivalidade e amizade no RS
Rixas entre cidades próximas existem em praticamente todo o Rio Grande do Sul
Você conhece aquela história do “entre tapas e beijos”? Acontece com irmãos, por exemplo. Entre cidades também. E se tratarmos de municípios vizinhos aí é que a discussão vai longe.
As tais rixas de cidades próximas existem em praticamente todas as regiões do Estado. Onde tem fronteira tem também uma disputa latente. Ou uma amizade a ser construída.
No sul do Estado, Pelotas e Rio Grande começa se desfazer do símbolo da vizinhança briguenta. Isso depois de protagonizarem algumas das mais ferrenhas disputas gaúchas. São historicamente rivais da planta dos pés à raíz dos cabelos. Pois, agora, poderão se unir em laço fraternal.
Para acabar com a disputa que nasceu no século 19, atravessou o século 20 e ainda perdura, um vereador de Pelotas diz ter a solução: tornar as cidades, oficialmente, irmãs. Sim, irmãs, com protocolo assinado pelos chefes de governo de cada uma das cidades. Nesta nova irmandade, a dúvida é se elas serão como Caim e Abel ou como Joãozinho e Maria, dos contos de fadas.
A guerra do peixe e do doce
Para os pelotenses, da terra dos doces, os rio-grandinos cheiram a peixe; para os rio-grandinos, isso é recalque de quem não é dono da maior praia do mundo. Entre apelidos e histórias, ninguém tem mais certeza do que é verdade.
Rio-grandinos juram que a primeira fábrica do Estado é de lá, a Rheingantz (1873); pelotenses garantem que a Lang, que fabricava sabão e velas, existia desde 1864, quase uma década antes.
No futebol, folclore: certa vez, quando os três times de Rio Grande teriam desbancado os três de Pelotas, um outdoor próximo à ponte sobre o Canal São Gonçalo, na rodovia que liga as duas cidades (BR-392), estampava “Futebol nesta região, só em Rio Grande. Ande mais 60 quilômetros”.
Nos clubes sociais, briga: os flertes da época eram os grandes motivadores – ainda assim, muita discussão terminou em casamento entre moradores das duas cidades.
Disputa pelo trem e pela alfândega
O historiador Mário Osório Magalhães conta que a rixa é do tempo em que Pelotas ainda pertencia a Rio Grande. Desde lá, há um atropelo de episódios da rivalidade. Na época dos charqueadores, a carne produzida em Pelotas seguia para exportação no porto de Rio Grande, as duas cidades ganhavam – até o dia em que Pelotas pediu a alfândega do Canal São Gonçalo, que permaneceu com Rio Grande. Deu briga.
Tempos mais tarde, a construção de uma estrada de ferro virou impasse. Seria de Rio Grande a Bagé ou de Pelotas a Bagé? E Rio Grande levou a melhor novamente. Na época, as cutucadas eram feitas por meio da imprensa. O Artista, em Rio Grande, e Correio Mercantil e O Cabrion, de Pelotas, tratavam do assunto. As piadinhas de uma cidade para a outra estavam, principalmente, em charges nos jornais.
Na reviravolta do tempo, Pelotas e Rio Grande, unidas pelos mesmos laços de origem estão, agora, a um passo de se assumir como parceiras. A ideia do vereador Eduardo Leite, autor do projeto, é de que haja uma conversa entre os dois governos, com um fórum de discussões permanente para que sejam pensadas em estratégias conjuntas de crescimento.
— Tudo que acontece em uma cidade repercute em outra. Essa disputa está ultrapassada, Rio Grande e Pelotas são naturalmente irmãs — sustenta o vereador.
O projeto foi entregue para o prefeito e vereadores de Rio Grande e está em processo de análise na Câmara. Estão sendo definidos os termos em que se dará a lei autorizativa para, em seguida, ajustar com a Câmara de Vereadores de Pelotas e marcar a data do fim de uma disputa que deverá ficar no passado.
Unindo indústria e logística
Se é fato ou lenda, ninguém sabe, mas hoje o “fato” faz parte do folclore: para provocar os moradores de Carazinho, um grupo Passo Fundo teria despejado na cidade vizinha um caminhão cheio de cachorros sarnentos. Como réplica, carazinhenses teriam soltado gatos em igual condição nas ruas de Passo Fundo.
Os duelos não se resumiam à batalha animal. Na década de 70, a rivalidade entre o carazinhense Atlético e os passo-fundenses Gaúcho e 14 de Julho era repleta de provocação e fortaleceu uma rixa muito além das quatro linhas do campo de jogo.
A maturidade, porém, venceu a concorrência. Na busca por indústrias de grande porte, como a fábrica de guindastes da norte-americana Manitowoc, inaugurada no dia 31 de março, em Passo Fundo, o apoio e a logística forte de Carazinho contou pontos para a vitória do vizinho. Entre os líderes das duas cidades, já é consenso: a conquista de investimentos de uma cidade beneficia diretamente a outra.
Separadas pelo Taquari
Apartadas apenas pelo Rio Taquari, os municípios de Estrela e Lajeado, no Vale do Taquari, disputaram até para ver quem teria a primeira rádio. Nesse caso, foi Estrela que saiu na frente, com a Radio Alto Taquari, fundada em 1948.
Mas a consolidação da peleia se deu mesmo nos campos de futebol, principalmente nos anos 40 e 50. Dirigente do Lajeadense na época, o advogado Ney Arruda, 82 anos, lembra dos confrontos com o Estrela Futebol Clube.
— Fui dirigente em 1957 e, na época, ainda não havia ponte sobre o Rio Taquari entre as duas cidades. Desde os anos 40, quando meu pai, Albino Gontran Arruda, foi dirigente do clube, a gente ia de balsa para Estrela nos dias de jogo. Ia todo mundo, jogadores, comissão técnica e os torcedores. Nem os gatos ficam em casa em dia de jogo! Muitas vezes, dava briga mesmo — assegura Arruda.
Reza a lenda que em função do tumulto e dos riscos de violência em cada partida de futebol, um delegado da época chegou a proibir os jogos entre as duas equipes.
Até desfile dá polêmica
É histórica a rivalidade entre as vizinhas Uruguaiana e Alegrete, na Fronteira Oeste. Existe disputa acirrada até pela quantidade de cavalarianos que desfila no dia 20 de Setembro. Briga folclórica que chegou ser transformada em enredo de cinema.
O curta-metragem Invasão do Alegrete é ambientado na década de 1940, quando Alegrete recebe seu primeiro telefone público. Sabendo da novidade, dois moradores de Uruguaiana resolvem estrear o aparelho com um trote: o Alegrete será invadido por Uruguaiana – a partir daí se desenrola uma divertida história.
Inspiração para a arte, Uruguaiana e Alegrete também caíram no gosto do humorista Jair Kobe. O Guri é de Uruguaiana, mas faz o público de todo o Estado cair na gargalhada com as suas várias versões do Canto Alegretense. Pode até ser que ainda haja um resquício da rivalidade, mas o certo é que Uruguaiana e Alegrete estão, pelo menos, unidas pelo riso.
Uma briga de bonecos
Os moradores de Caxias do Sul juram que é verdade, os de Bento Gonçalves tratam como piada – assim como a história de que o primeiro prédio de Caxias do Sul teria feito sombra à cidade vizinha. Mas história caxiense é que no verão de 1975, Bento Gonçalves realizava a Festa Nacional do Vinho e, para enfeitar a cidade, os organizadores espalharam bonecos pelas ruas, uma espécie de sinalização caracterizada até os pavilhões da festa.
Um grupo de caxienses teria arrancado o boneco do primeiro poste e colocado em frente ao Parque Cinquentenário, de Caxias do Sul, com uma placa no pescoço: Fuzi de Bento. A ideia era zombar do sotaque típico e mais carregado dos descendentes de italianos da cidade vizinha. Um grupo de Bento Gonçalves foi até lá e buscou o boneco. No dia seguinte, a pegadinha: o boneco apareceu novamente em Caxias do Sul, no mesmo lugar, com nova placa e novos dizeres: “Fuzi de novo”.
Bailes e pneus furados
Quem é turista nem percebe quando passa de Gramado para Canela, ou vice-versa. Mas os moradores ficam furiosos quando são confundidos. A rivalidade teria origem em blocos de Carnaval e no futebol, diz o pesquisador Pedro Oliveira. A rixa seria anterior às emancipações: os fundadores de Gramado e Canela disputavam o poder local antes da fundação dos municípios. Com as emancipações e com o crescimento econômico, a rivalidade aumentou, avalia a pesquisadora Marília Daros:
— Quando íamos a bailes vizinhos, os pneus dos carros eram esvaziados.
A mistura nos bailes, no entanto, fez com que muitos canelenses casassem com muitos gramadenses. E o conflito diminuiu. Nos anos 1970, eventos eram intercalados para contemplar um ano cada cidade. Nos últimos anos, no entanto, o calendário de eventos voltou a coincidir no Natal, na Páscoa e no inverno.
Mas o foco de crescimento está sendo alinhando com ângulos diferentes, o que ajuda a evitar novas rixas: enquanto Gramado olha o lúdico e o mercado imobiliário, Canela está se tornando a cidade referência em parques temáticos e ecológicos.
Futebol, política e inveja
Quando ouviu as primeiras histórias de rivalidade entre cidades vizinhas, o jornalista gaúcho Olides Canton pensou que dali sairia uma reportagem. Foi além: juntou documentos, consultou historiadores, pediu ajuda para colegas e no final de três anos de pesquisa tinha material suficiente para publicar um livro.
Surgiu, então, Cidades Vizinhas, amor e ódio. Nesse tempo todo de pesquisa ele descobriu que a rivalidade tinha motivos comuns: política, futebol e um tanto de inveja, o que uma cidade tem que a outra não tem.
Os casos de rivalidade, segundo o jornalista, comuns no Rio Grande do Sul, acontecem também pelo mundo. Onde há fronteira, há briga. E que o digam gaúchos e argentinos.
Canton cita, como exemplos internacionais, Roma e Milão, na Itália. No Brasil, lembra da pernambucana Petrolina, separada por um rio da baiana Juazeiro do Norte: diz que lá os moradores de uma se negam a ler o jornal da outra. Sobre a história de as rivais se tornarem irmãs?
— Acho uma babaquice. As cidades se alimentam dessa rivalidade, crescem com essa rivalidade, isso é universal.
As tais rixas de cidades próximas existem em praticamente todas as regiões do Estado. Onde tem fronteira tem também uma disputa latente. Ou uma amizade a ser construída.
No sul do Estado, Pelotas e Rio Grande começa se desfazer do símbolo da vizinhança briguenta. Isso depois de protagonizarem algumas das mais ferrenhas disputas gaúchas. São historicamente rivais da planta dos pés à raíz dos cabelos. Pois, agora, poderão se unir em laço fraternal.
Para acabar com a disputa que nasceu no século 19, atravessou o século 20 e ainda perdura, um vereador de Pelotas diz ter a solução: tornar as cidades, oficialmente, irmãs. Sim, irmãs, com protocolo assinado pelos chefes de governo de cada uma das cidades. Nesta nova irmandade, a dúvida é se elas serão como Caim e Abel ou como Joãozinho e Maria, dos contos de fadas.
A guerra do peixe e do doce
Para os pelotenses, da terra dos doces, os rio-grandinos cheiram a peixe; para os rio-grandinos, isso é recalque de quem não é dono da maior praia do mundo. Entre apelidos e histórias, ninguém tem mais certeza do que é verdade.
Rio-grandinos juram que a primeira fábrica do Estado é de lá, a Rheingantz (1873); pelotenses garantem que a Lang, que fabricava sabão e velas, existia desde 1864, quase uma década antes.
No futebol, folclore: certa vez, quando os três times de Rio Grande teriam desbancado os três de Pelotas, um outdoor próximo à ponte sobre o Canal São Gonçalo, na rodovia que liga as duas cidades (BR-392), estampava “Futebol nesta região, só em Rio Grande. Ande mais 60 quilômetros”.
Nos clubes sociais, briga: os flertes da época eram os grandes motivadores – ainda assim, muita discussão terminou em casamento entre moradores das duas cidades.
Disputa pelo trem e pela alfândega
O historiador Mário Osório Magalhães conta que a rixa é do tempo em que Pelotas ainda pertencia a Rio Grande. Desde lá, há um atropelo de episódios da rivalidade. Na época dos charqueadores, a carne produzida em Pelotas seguia para exportação no porto de Rio Grande, as duas cidades ganhavam – até o dia em que Pelotas pediu a alfândega do Canal São Gonçalo, que permaneceu com Rio Grande. Deu briga.
Tempos mais tarde, a construção de uma estrada de ferro virou impasse. Seria de Rio Grande a Bagé ou de Pelotas a Bagé? E Rio Grande levou a melhor novamente. Na época, as cutucadas eram feitas por meio da imprensa. O Artista, em Rio Grande, e Correio Mercantil e O Cabrion, de Pelotas, tratavam do assunto. As piadinhas de uma cidade para a outra estavam, principalmente, em charges nos jornais.
Na reviravolta do tempo, Pelotas e Rio Grande, unidas pelos mesmos laços de origem estão, agora, a um passo de se assumir como parceiras. A ideia do vereador Eduardo Leite, autor do projeto, é de que haja uma conversa entre os dois governos, com um fórum de discussões permanente para que sejam pensadas em estratégias conjuntas de crescimento.
— Tudo que acontece em uma cidade repercute em outra. Essa disputa está ultrapassada, Rio Grande e Pelotas são naturalmente irmãs — sustenta o vereador.
O projeto foi entregue para o prefeito e vereadores de Rio Grande e está em processo de análise na Câmara. Estão sendo definidos os termos em que se dará a lei autorizativa para, em seguida, ajustar com a Câmara de Vereadores de Pelotas e marcar a data do fim de uma disputa que deverá ficar no passado.
Unindo indústria e logística
Se é fato ou lenda, ninguém sabe, mas hoje o “fato” faz parte do folclore: para provocar os moradores de Carazinho, um grupo Passo Fundo teria despejado na cidade vizinha um caminhão cheio de cachorros sarnentos. Como réplica, carazinhenses teriam soltado gatos em igual condição nas ruas de Passo Fundo.
Os duelos não se resumiam à batalha animal. Na década de 70, a rivalidade entre o carazinhense Atlético e os passo-fundenses Gaúcho e 14 de Julho era repleta de provocação e fortaleceu uma rixa muito além das quatro linhas do campo de jogo.
A maturidade, porém, venceu a concorrência. Na busca por indústrias de grande porte, como a fábrica de guindastes da norte-americana Manitowoc, inaugurada no dia 31 de março, em Passo Fundo, o apoio e a logística forte de Carazinho contou pontos para a vitória do vizinho. Entre os líderes das duas cidades, já é consenso: a conquista de investimentos de uma cidade beneficia diretamente a outra.
Separadas pelo Taquari
Apartadas apenas pelo Rio Taquari, os municípios de Estrela e Lajeado, no Vale do Taquari, disputaram até para ver quem teria a primeira rádio. Nesse caso, foi Estrela que saiu na frente, com a Radio Alto Taquari, fundada em 1948.
Mas a consolidação da peleia se deu mesmo nos campos de futebol, principalmente nos anos 40 e 50. Dirigente do Lajeadense na época, o advogado Ney Arruda, 82 anos, lembra dos confrontos com o Estrela Futebol Clube.
— Fui dirigente em 1957 e, na época, ainda não havia ponte sobre o Rio Taquari entre as duas cidades. Desde os anos 40, quando meu pai, Albino Gontran Arruda, foi dirigente do clube, a gente ia de balsa para Estrela nos dias de jogo. Ia todo mundo, jogadores, comissão técnica e os torcedores. Nem os gatos ficam em casa em dia de jogo! Muitas vezes, dava briga mesmo — assegura Arruda.
Reza a lenda que em função do tumulto e dos riscos de violência em cada partida de futebol, um delegado da época chegou a proibir os jogos entre as duas equipes.
Até desfile dá polêmica
É histórica a rivalidade entre as vizinhas Uruguaiana e Alegrete, na Fronteira Oeste. Existe disputa acirrada até pela quantidade de cavalarianos que desfila no dia 20 de Setembro. Briga folclórica que chegou ser transformada em enredo de cinema.
O curta-metragem Invasão do Alegrete é ambientado na década de 1940, quando Alegrete recebe seu primeiro telefone público. Sabendo da novidade, dois moradores de Uruguaiana resolvem estrear o aparelho com um trote: o Alegrete será invadido por Uruguaiana – a partir daí se desenrola uma divertida história.
Inspiração para a arte, Uruguaiana e Alegrete também caíram no gosto do humorista Jair Kobe. O Guri é de Uruguaiana, mas faz o público de todo o Estado cair na gargalhada com as suas várias versões do Canto Alegretense. Pode até ser que ainda haja um resquício da rivalidade, mas o certo é que Uruguaiana e Alegrete estão, pelo menos, unidas pelo riso.
Uma briga de bonecos
Os moradores de Caxias do Sul juram que é verdade, os de Bento Gonçalves tratam como piada – assim como a história de que o primeiro prédio de Caxias do Sul teria feito sombra à cidade vizinha. Mas história caxiense é que no verão de 1975, Bento Gonçalves realizava a Festa Nacional do Vinho e, para enfeitar a cidade, os organizadores espalharam bonecos pelas ruas, uma espécie de sinalização caracterizada até os pavilhões da festa.
Um grupo de caxienses teria arrancado o boneco do primeiro poste e colocado em frente ao Parque Cinquentenário, de Caxias do Sul, com uma placa no pescoço: Fuzi de Bento. A ideia era zombar do sotaque típico e mais carregado dos descendentes de italianos da cidade vizinha. Um grupo de Bento Gonçalves foi até lá e buscou o boneco. No dia seguinte, a pegadinha: o boneco apareceu novamente em Caxias do Sul, no mesmo lugar, com nova placa e novos dizeres: “Fuzi de novo”.
Bailes e pneus furados
Quem é turista nem percebe quando passa de Gramado para Canela, ou vice-versa. Mas os moradores ficam furiosos quando são confundidos. A rivalidade teria origem em blocos de Carnaval e no futebol, diz o pesquisador Pedro Oliveira. A rixa seria anterior às emancipações: os fundadores de Gramado e Canela disputavam o poder local antes da fundação dos municípios. Com as emancipações e com o crescimento econômico, a rivalidade aumentou, avalia a pesquisadora Marília Daros:
— Quando íamos a bailes vizinhos, os pneus dos carros eram esvaziados.
A mistura nos bailes, no entanto, fez com que muitos canelenses casassem com muitos gramadenses. E o conflito diminuiu. Nos anos 1970, eventos eram intercalados para contemplar um ano cada cidade. Nos últimos anos, no entanto, o calendário de eventos voltou a coincidir no Natal, na Páscoa e no inverno.
Mas o foco de crescimento está sendo alinhando com ângulos diferentes, o que ajuda a evitar novas rixas: enquanto Gramado olha o lúdico e o mercado imobiliário, Canela está se tornando a cidade referência em parques temáticos e ecológicos.
Futebol, política e inveja
Quando ouviu as primeiras histórias de rivalidade entre cidades vizinhas, o jornalista gaúcho Olides Canton pensou que dali sairia uma reportagem. Foi além: juntou documentos, consultou historiadores, pediu ajuda para colegas e no final de três anos de pesquisa tinha material suficiente para publicar um livro.
Surgiu, então, Cidades Vizinhas, amor e ódio. Nesse tempo todo de pesquisa ele descobriu que a rivalidade tinha motivos comuns: política, futebol e um tanto de inveja, o que uma cidade tem que a outra não tem.
Os casos de rivalidade, segundo o jornalista, comuns no Rio Grande do Sul, acontecem também pelo mundo. Onde há fronteira, há briga. E que o digam gaúchos e argentinos.
Canton cita, como exemplos internacionais, Roma e Milão, na Itália. No Brasil, lembra da pernambucana Petrolina, separada por um rio da baiana Juazeiro do Norte: diz que lá os moradores de uma se negam a ler o jornal da outra. Sobre a história de as rivais se tornarem irmãs?
— Acho uma babaquice. As cidades se alimentam dessa rivalidade, crescem com essa rivalidade, isso é universal.
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